Três histórias bem-dispostas*

* Hoje no Jornal do Centro impresso e aqui

1. O realizador dinamarquês Nikolaj Arcel acaba de levar ao festival de Veneza “The Promised Land”, o seu último filme. Na conferência de imprensa, um jornalista preveniu-o que, como o elenco era “inteiramente nórdico”, sem “diversidade”, era melhor esquecer os Oscares.

Depois de alguma galhofa, Arcel lembrou que seria “um pouco estranho” haver actores não-brancos num drama histórico que se passa na Dinamarca, em meados do século XVIII.

Estas bizantinices de Hollywood irritam cada vez mais as pessoas. Vejamos dois comentários no Twitter a gozarem essa tal “diversidade” nos filmes: 

— “espero que eles passem a usar carros híbridos nas cenas de perseguição”;  

— “e nos westerns montem em mulas, os híbridos dos cavalos.”


2. Não é nada, não é nada, mas o presidente da câmara de Oeiras conseguiu isaltinar a excelência de 51 restaurantes do seu concelho, e pôr o país a acompanhar a cotação dos vinhos Pêra-Manca e a tentar perceber se o rodeão é tão extravagante como o arroz de lavagante.

Solicita-se a um político ou a um vip que faça o mesmo em Viseu, onde a qualidade dos restaurantes pede meças à dos de Oeiras. 


3. Fernando Savater, um filósofo nascido no País Basco que escreve muito sobre ética, publicou esta semana, no The Objective, um texto melancólico sobre a forma como Pedro Sánchez se quer “perpetuar no poder” com o apoio do separatismo.

No meio daquela prosa desencantada, há uma história divertida sobre George Borrow, um prosélito protestante que, no século XIX, percorreu Espanha a espalhar bíblias e a sua fé. Numa dessas missionarizações, um camponês cortou-lhe a conversa rente: «Mire usted, don Inglés, yo no creo en la religión católica, que es la verdadera, de modo que mucho menos voy a creer en esa suya, que es falsa.» 

O que me fez lembrar outra história, esta contada por Christopher Hitchens, em “Deus não é grande”: em Belfast, numa operação stop, perguntaram a religião a um motorista, ao que ele respondeu: «Sou ateu», o que levou imediatamente a uma segunda pergunta: «Ateu protestante ou católico?»

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