Árvore


Better be jocund with the fruitful Grape
Then sadden after none, or bitter, Fruit
Omar Khayyam


Pois o vinho de Xiraz é desilusoriamente amargo. Aquecido como um maduro pelo hálito quente da boca da amada, longas veias negras contendo-o pelas pernas, entorpecendo-lhe o andar, fazendo-a alongar-se na minha manta, os olhos de carvão ao rubro, a fronha, a djelaba rasgada até ao alto da coxa dura e doce.
          Chupamos os lábios, polpa de Uva, a mais quente.
          Mordemos as frutas dos nossos corpos. Um pó fino cobria-me.
          Permaneci agachado perante o recorte nímbio das muralhas.
          A minha amada esperou séculos a ausência dos meus braços.
          Fielmente entregou-se a quanto soldado quis beber o vinho do seu regaço.
          Porque eu fui sempre O Presente O Fiel O Amante.
          Em cada concubina em cada guerra em cada Vinho
É que o vinho de Xiraz é uma mentira para quem o toca com a Sede. Maduro, lembrando o calor do leito da amada, o contacto quente do aço gelado do inimigo. É a Palestina, a promessa, a Guerra. É Beirute vertendo, derramando e misturando VINHO E SANGUE, por uma vez unindo universalmente o rasgão da djelaba, ora ensanguentado pela artilharia vil, ou molhado pelo viril esperma de um desejo numa Fonte.

          Eu fui sempre O Presente O Fiel O Amante. 
          Em cada concubina em cada guerra em cada Vinho.
Rui Reininho




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