Lambe-te o fogo cada ruga e pêlo


Fotografia de Jeanloup Sieff


Lambe-te o fogo cada ruga e pêlo,

e a água onde mergulhas logo encerra

em fresca e fina luva o corpo inteiro

e sem pudor algum te abraça e beija.

Mesmo o vulgar sabão, no tanque absorto,

pela nudez da carne se insinua

e entre as coxas flutua, como um peixe

mais branco, que outra sombra continua.

Mas eu, quando me cubro do teu rosto

e sou somente de água e fogo feito,

melhor ainda te conheço e quero,

e nada no teu corpo me é alheio:

em cada grão de pele te desejo,

em cada ruga leio o meu destino.

António Franco Alexandre 



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