A almofada de Peter Pan *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 25 de novembro de 2011

      

1. Peter Pan, a história do menino que se recusa a crescer, está a ser levado à cena pela Zunzum, numa versão muito divertida que, espera-se, esteja a alegrar as crianças do distrito de Viseu.      

A certa altura no espectáculo — que tem muita interactividade entre os actores e o público —, desata-se uma luta de almofadas das bravas. Vem almofada para cá, vai almofada para lá... Os jovens espectadores que, como se sabe, têm sempre pilhas novas e carregadas, deliram com aquela batalha.      

Infelizmente, nenhuma almofada passou ao meu alcance — e não dá muito jeito ir prevenido com “munições” destas de casa... — pelo que não pude fazer o truque que se impunha naquelas circunstâncias: fingir que apontava à grácil e delicada Wendy e, zás!, acertar em cheio no imenso Capitão Gancho. Fica aqui a táctica para uma futura guerra, perdão!, para uma futura representação deste Peter Pan.      

O debate público entre António José Seguro e Pedro Passos Coelho sobre o orçamento para 2012 pareceu sempre, desde o princípio, a versão da Zunzum do Peter Pan: o que se tem passado é uma luta de almofadas. Há almofada orçamental, diz Seguro, não há, riposta Passos.      

Registe-se que todos os partidos, todos sem excepção, propuseram mais impostos durante a preparação deste orçamento. Os da esquerda querem mais impostos sobre os ricos, os socialistas é o típico nem-carne-nem-peixe-e-tudo-sem-sal segurista e a direita no poder taxa tudo o que mexe. 

Portugal, mais que um Peter Pan, é uma noite na Transilvânia. 

     

2. O fim da Rádio Noar, uma empresa auto-sustentável, pôs a nu uma evidência: Viseu tem umas elites que podem ter algum poder e algum dinheiro mas não têm nenhum sentido comunitário nem cívico. 

Elites assim não vão longe. Como, infelizmente, se tem visto e continuará a ver.

Comentários

Mensagens populares