Melancolia*
* Publicado há exactamente dez anos, em 22 de Fevereiro de 2008
1. “Ai daqueles que se põem a percorrer o caminho por onde foram felizes!”. Paulo Portas tem sentido isso agora na pele. Neste seu regresso à liderança do CDS, ainda não teve um minuto de sossego. Da primeira vez, nos anos 90, tudo lhe foi mais fácil. Há uns tempos, num e-mail, escrevi um texto sobre essa “primeira vez” de Paulo Portas que adapto agora para aqui:
A sequência mais cinemática da política portuguesa aconteceu num Congresso do CDS. Ainda era primeiro-ministro António Guterres, patrão agora de Angelina Jolie.
Os "trabalhos" a decorrerem. Trabalhos, sim!: os congressistas trabalham, não dizem mal uns dos outros nas costas uns dos outros, nem discutem futebol, nem namordiscam... Os “trabalhos” decorriam. Ainda era Manuel Monteiro ao centro, na mesa principal.
De súbito, irrompem aplausos no fundo da sala. O povo do CDS vira a cabeça. Sorrisos no ar. Cenhos franzidos nas elites. Palmas. Metronicamente, Ele entra. Ele. O Messias. Paulo Portas, saudado pela sala em pé, caminha enérgico a olhar para Manuel Monteiro.
A turba agita-se. As televisões seguem a cena. Paulo Portas mais próximo. A sala paroxiza-se. As meninas jotas ruborescem. As madames têm princípios de delíquios. Os cabos de votos do Minho acenam que sim com a cabeça.
Paulo chega à mesa. Aperta energicamente a mão a Manuel.
No tempo de um aperto de mão, Paulo “é”, Manuel “era”. A política à Paulo Portas foi, então, naquele momento, bíblica.
2. Dez anos depois, já não há instantes assim. Caiu em cima da política portuguesa, e não só na de Paulo Portas, uma melancolia de sobreiros abatidos por obra e graça do Espírito Santo.
1. “Ai daqueles que se põem a percorrer o caminho por onde foram felizes!”. Paulo Portas tem sentido isso agora na pele. Neste seu regresso à liderança do CDS, ainda não teve um minuto de sossego. Da primeira vez, nos anos 90, tudo lhe foi mais fácil. Há uns tempos, num e-mail, escrevi um texto sobre essa “primeira vez” de Paulo Portas que adapto agora para aqui:
A sequência mais cinemática da política portuguesa aconteceu num Congresso do CDS. Ainda era primeiro-ministro António Guterres, patrão agora de Angelina Jolie.
Os "trabalhos" a decorrerem. Trabalhos, sim!: os congressistas trabalham, não dizem mal uns dos outros nas costas uns dos outros, nem discutem futebol, nem namordiscam... Os “trabalhos” decorriam. Ainda era Manuel Monteiro ao centro, na mesa principal.
De súbito, irrompem aplausos no fundo da sala. O povo do CDS vira a cabeça. Sorrisos no ar. Cenhos franzidos nas elites. Palmas. Metronicamente, Ele entra. Ele. O Messias. Paulo Portas, saudado pela sala em pé, caminha enérgico a olhar para Manuel Monteiro.
A turba agita-se. As televisões seguem a cena. Paulo Portas mais próximo. A sala paroxiza-se. As meninas jotas ruborescem. As madames têm princípios de delíquios. Os cabos de votos do Minho acenam que sim com a cabeça.
Paulo chega à mesa. Aperta energicamente a mão a Manuel.
Fotografia de Fernando Veludo para o Público |
2. Dez anos depois, já não há instantes assim. Caiu em cima da política portuguesa, e não só na de Paulo Portas, uma melancolia de sobreiros abatidos por obra e graça do Espírito Santo.
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