Conversação com um melro
Desenho achado aqui |
"Fazes favor, fazes favor, fazes favor"
começa ele, e eu espero o resto
que vem, indistinto e sem ênfase.
"Afasta-te", creio compreender,
ou "deixa andar", posso ter ouvido ou não:
as vogais são confusas,
as consoantes faltam.
Oh, e o ritmo é livre
depois desse cortês pedido.
Traduzido, o meu assobio de resposta diz:
"Sê mais explícito. A nossa espécie não suporta
coisas incertas, canções com o fim em aberto.
Ser deixado a adivinhar é mais
do que aguentamos muito tempo."
Ri-se? "Por favor, por favor, por favor"
é a resposta. E então coloratura, e nela estas frases:
"Eu repito, o fim não cito.
São mistérios, mistérios de cantor.
Improviso, o tempo aviso.
Ora subo, e ora piso.
E volito. Não hesito
se o indefinido imito.
E ora fito, chilrozito. Ora saltito."
Michael Hamburger
Trad.: Vasco Graça Moura
Post excelente, como sempre.
ResponderEliminarA cover do Mário Laginha e da Maria João também é magnífica:
https://www.youtube.com/watch?v=lm78xNPtlqU
:-)