No we can’t*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente quatro anos, em 23 de Outubro de 2009


1. Quando, em Janeiro de 2001, George W. Bush tomou posse como presidente, queria virar os Estados Unidos para o umbigo. Ele desejava fazer um corte com o cosmopolitismo de Bill Clinton e diminuir a presença da América no mundo.

Isso não era nada de novo: ciclicamente, a doutrina unilateralista ganha força em Washington.

Como é sabido, meses depois, a 11 de Setembro, Osama bin Laden estilhaçou a estratégia isolacionista de Bush. Foi a partir dessa data que os neo-conservadores e o sr. Dick Cheney ganharam influência e fizeram embarcar George W. Bush na aventura da guerra preventiva contra o “eixo do mal”. As consequências são conhecidas.

2. Barack Obama percebeu que, perdidos os anéis no Iraque, para salvar os dedos precisava de ir directo à fonte dos sarilhos: ao Afeganistão e ao Paquistão. Perante este objectivo estratégico, toda a comunidade internacional assobiou para o lado e deixou-o sozinho. O costume. Depois da queda do muro de Berlim, são deixadas aos americanos todas as chatices. Até na Europa, nos anos de 1990, tiveram que ser eles a virem resolver a confusão na ex-Jugoslávia.

Metido num molho de bróculos interno, com todos os indicadores económicos no vermelho, com o dólar a colapsar, Obama precisa de se virar para casa.

No Pentágono desenha-se uma nova estratégia, a que se pode chamar: “No, we can’t!”. “Nós não podemos!” Os americanos já não podem nem querem ser os polícias do mundo.

3. Obama ainda não fez nada que se visse para merecer o prémio Nobel da Paz. É absurdo, depois da “guerra preventiva” de Bush, vir-se agora com a “paz preventiva” de Obama.

De qualquer forma, este prémio estúpido não muda nada: a política externa americana vai passar a ser menos intervencionista.

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