Respeitar o voto*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 19 de Setembro de 2013

1. Barack Obama ainda só estava a viver há nove meses na Casa Branca e foi logo agraciado com o Prémio Nobel da Paz. Escrevi aqui sobre isso, em Outubro de 2009: “Obama ainda não fez nada que se visse para merecer o prémio Nobel da Paz. É absurdo, depois da “guerra preventiva” de Bush, vir-se agora com a “paz preventiva” de Obama. De qualquer forma, este prémio estúpido não muda nada: a política externa americana vai passar a ser menos intervencionista.”

Prémio estúpido, claro: dá-se um prémio a uma pessoa pelo que ela fez, não por aquilo que ela vai fazer. Nesse caso não é um prémio, é um incentivo.

Obama é um mestre a usar o “poder suave” da palavra e tem usado a estratégia de falar directamente para a rua islâmica e tem sido ouvido. A rua árabe, que saiu em esperança de uma primavera democrática, contava com Obama. As coisas não têm corrido bem e na Síria tornaram-se num pesadelo.

Putin, na semana passada, decidiu imitar o “soft power” de Obama e publicou no New York Times uma carta dirigida ao povo americano sobre a Síria, uma carta que é uma lição de moral e uma bofetada de luva branca. Vai sair um Prémio Nobel da Paz para Vladimir?

2. A deserção em massa da última lista de Miguel Ginestal é um triste exemplo da forma como os eleitos desrespeitam o voto das pessoas e José Junqueiro fez bem em agora não ter colocado nenhum dos desertores nas listas.

O bloco de esquerda vai mais longe neste desrespeito: põe os eleitos a “rodar” e acha que assim é que é bem

No último mandato na assembleia municipal de Viseu, Carlos Vieira, o único e esforçado deputado bloquista, foi “rodado” por uma substituta, bem mais fraquinha por sinal.

Era importante que Carlos Vieira, novamente a votos, dissesse ao que vem: vai estar lá quatro anos ou a fotografia dele nos outdoors é uma mentira e vai deixar-se “rodar” outra vez?

Comentários

  1. 2.1. A premissa é errada. José Junqueiro, afunilará na sua pessoa a "deserção" porque não ficará obviamente como vereador na CMV.
    3.1. A premissa é falsa. Carlos Vieira, dos melhores deputados daquela casa, foi obrigado a pedir a sua substituição por motivos profissionais, ponto. O resto é um pré-juízo de valor seu, o que lhe fica mal. E pior fica porque bastava pergunatar ao Carlos Vieira, que você até conhece, essas mesmas razões. Mas é mais fácil a suposição, que não atrapalha a tese nem incomoda o verbo.
    3.2. E mesmo que a rotação fosse voluntária, os eleitoes do B.E. sabem que a força advém do colectivo. Messianismos são para outras paróquias.
    4. Para que a tese ganhe consistência, omite-se que os candidatos à CMV do tão querido "arco-do-poder", fizeram exactamente o mesmo aos eleitores que neles depositaram as expectativas nas últimas eleições legislativas, tendo sido agora "rodados" (é esse o termo "né"?) para que possam acudir ao apelo das gentes da sua terra que por cá não arranjavam melhor.
    5. Ainda assim, entre os tais políticos "fraquinhos" e a verborragia de alguns comentadores da praça pública, prefiro os primeiros. Pelo menos vão a luta.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Daniel Nicola
      Muito obrigado pelos seus 1173 caracteres.

      São quase o dobro dos 684 que dediquei ao facto do bloco de esquerda “rodar” candidatos como quem roda pneus — para “verborragia” não está mal.

      O seu ponto 3.2 – que trata sem originalidade nenhuma da clássica dissolvência do “eu” no “colectivo”, típica das organizações leninistas — deixa entrever o que se vai passar: em Viseu os candidatos, se eleitos, vão “rodar” (depois alegarão os motivos do costume, isto é, as “verborragias” do costume).

      Cumprimentos

      Eliminar
  2. Caro Alexandre,

    desde já, obrigado pela contagem de caracteres, mas a verborragia que referi não era tanto sobre a "compulsão para falar" mas mais sobre a "profusão de frases sem sentido". Wiki Dixitque...

    por norma, os pneus rodam-se anualmente, o Vieira cedeu o lugar apenas este ano. ou seja, mesmo com os pneus carecas de quase 4 anos de uso, aguentou-se bem e derrapou pouco. e pelos motivos que referi, mas que você desconsidera.

    quanto à originalidade, ou falta dela, está patente na forma como critica "a forma" ;) e omite o conteúdo. Pelos motivos do costume: cola-se um qualquer rótulo (leninista) para que nem seja necessário contra-argumentar. Tão fácil. Tão Barato. E às vezes até dá milhões.

    Cumprimentos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Daniel Nicola

      Continuamos na mesma. Mas agora "esmiuço" o que está em causa um pouco mais.

      Em Lisboa, para substituir Ana Drago, o bloco foi buscar uma pessoa que estava nos lugares a contar do fundo, todos os que estavam antes tiveram que renunciar ao lugar (certamente alegando as razões do costume, a "verborragia" do costume, falsa como Judas e para enganar bebés de colo).

      Em S. Pedro do Sul, rodam quatro como os pneus, a candidata bloquista disse-o, está no link desta publicação. (Oiça o audio: http://ocaricas.blogspot.pt/2013/08/rui-costa-entra-na-rotativa-do-pastel.html )

      Em Viseu, o Carlos Vieira era o único deputado municipal do bloco. Provavelmente, espero que sim, apesar de a assembleia municipal passar de 35 para 27 deputados, Carlos Vieira será reconduzido pelos seus eleitores. Espero que sim, ele fez um trabalho aguerrido, merece esse voto dos seus eleitores.

      Esse é o ponto: um eleitor que seja do Carlos Vieira mas não do bloco (conheço vários, fique sabendo...) com que confiança votará no bloco se eles rodam eleitos como quem roda pneus?

      Veja, repito, o caso daquela senhora meio esdrúxula de S. Pedro do Sul...).

      Respeito pelas pessoas, verdade não mentira, se é para rodar candidatos, em vez daqueles outdoors personalizados com pessoas que afinal são descartáveis, façam um outdoor com um carrossel a voltejar, a rodar, mais-uma-corrida-mais-uma-viagem.

      O ponto é este, tudo o resto são lateralidades.

      Cumprimentos

      Eliminar
  3. era tb importante que esclarecesse qual é a sua verdadeira opinião, do candidato que apoia, e do qual é, inclusivamente porta-voz.

    é que em tempos li um texto seu, no jornal do centro, sobre o dito candidato (aquele que sempre teve medo de dar a cara contra o Ruas) que falava nas suas qualidades (neste caso, falta delas)...

    Sim, concordo q o BE abusa dessa dita "rotação", mas não é nada que todos os partidos não façam, e em diversas situações e locais.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares