Ocupas *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
    
Foi há dez anos, em Dezembro de 2001, que Guterres se foi embora. Ele percebera que o país tinha caído num pântano, com a política mancomunada com os negócios.


 Depois, vieram os governos jacinto-leite-capelo-rego de Durão Barroso e contentores-de-robalos-e-alheiras de Sócrates.


E veio a pré-bancarrota em Maio.

Nesta desgraçada década, o país habituou-se a aumentos de impostos, cada vez mais brutais, e a receitas extraordinárias nos finais de ano. 
     
Quem não se lembra da venda da rede fixa da PT, do fundo de pensões da CGD ou da titularização de créditos fiscais ao Citigroup feitos por Manuela Ferreira Leite? Quem não se lembra, no ano passado, de Zeinal Bava a passar o fundo de pensões da PT para o Estado ao mesmo tempo que escapulia ao fisco centenas de milhões de euros dos lucros da venda da Vivo? 
     
Vamos com dez anos disto e este ano não foi diferente: Vitor Gaspar subiu impostos e encaixou mais uma “receita irrepetível” — 6 mil milhões de euros dos fundos de pensões dos bancos, isto é, activos dos bancários que existiam para assegurar as suas pensões no futuro.  


Mais uma vez, como explicou Pedro Santos Guerrreiro num brilhante texto no Jornal de Negócios, o estado foi ao futuro buscar dinheiro e fê-lo viajar para trás no tempo. Já tinha sido assim com a CGD, com o Citigroup, com a PT. 
     
Este ano, a esta viagem do dinheiro no tempo, chamou-se almofadas. Pedro Passos Coelho foi buscar dinheiro ao futuro para, no presente, pôr uma “almofada” nas dívidas do passado. António José Seguro queria mais ou menos a mesma coisa: que se fosse buscar dinheiro ao futuro e, em vez de pôr a “almofada” no passado, pô-la no presente.

Diz Daniel Innerarity: “pomos as gerações futuras a trabalhar involuntariamente em nosso benefício”. 

E diz também: “estamos a ser os «ocupas» do futuro.”

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