O PACK4 de Judite de Sousa

     Em 2009 e 2010 Portugal teve os dois maiores défices seguidos em tempo de paz de todos os seus nove séculos de história.
     Politicamente, o país arrastou-se com um governo minoritário dirigido por um primeiro-ministro em negação e sem compreender os contornos da crise sistémica global e um presidente da república em fim de mandato e preocupado, acima de tudo, com a sua reeleição. Todos os bloqueios acumulados em 2009 e 2010 à espera das presidenciais romperam-se em 2011.
     Judite de Sousa em entrevista ao jornal Público publicada este domingo dá alguns detalhes da aceleração política da primavera de 2011:
     «Muitas pessoas não perceberam por que é que andava a entrevistar banqueiros todos os dias. A verdade é que as entrevistas foram feitas numa segunda, numa terça, numa quarta e numa quinta; 48 horas depois, o primeiro-ministro estava a pedir ajuda financeira.»
     A jornalista da TVI teve o seu PACK4 de banqueiros em quatro dias seguidos. Sócrates já tinha tido, com o resultado que se conhece, o seu PEC4. 
     Judite de Sousa levantou agora um pouco o véu sobre o que fez o lobby dos bancos que já não tinha nem liquidez nem crédito em lado nenhum para poder comprar dívida pública portuguesa.
     Mas quem de facto desencadeou o resgate foi Teixeira dos Santos, num e-mail enviado em 6 de Abril para o Jornal de Negócios, e-mail que irritou muito o sanguíneo Sócrates que teve que alterar o guião que tinha preparado para o congresso socialista de Matosinhos que se iniciava dois dias depois. Esse e-mail "fatal" fez com que Teixeira dos Santos fosse varrido das listas socialistas.
     A história será melhor conhecida quando, um dia, Teixeira dos Santos decidir falar. Ninguém melhor do que ele poderá explicar como é que o país se deixou arrastar para a situação actual de soberania limitada  e obediente à vontade dos credores.

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