Tributo a Van Gogh

Assola-o a chama de um cipreste, um céu de tule
com textura de veludo e brilho agreste, as
espirais amarelas das estrelas, as nuvens cor de
chumbo, o céu azul prússia, as nuvens em fuga,
o vento que penteia as searas com minúcia.

Açula-o a luz do sul, o febril celeste azul. O anil
profundo quando entardece. Acidula-o a socie-
dade mercantil. Sente-se acossado, desfalece.
Traz-se consumido. De vez em quando um
zumbido zune como insecto em lugar secreto de
seu decepado ouvido.

Assalta-o a vontade de não mais seguir dos
astros o reflexo como tonto insecto: vai desistir,
quer ser nada, nem mais uma pincelada, nunca
mais um objecto, tudo o que quer é dormir. Na
bala que abala esse dia fica ainda abalada a fuga
dos corvos em revoada: jamais chegam a fugir.
António Gil


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