Óscares, mulheres e jazz*

 * Hoje no Jornal do Centro, nas bancas e aqui


1. O campeão dos Óscares, neste ano da graça de 2025, foi “Anora”, um filme independente dirigido por Sean Baker que custou uns meros seis milhões de dólares e já fez sete vezes isso nas bilheteiras. Um meu amigo do Facebook definiu-o assim: é “um filme normal, uma boa comédia romântica em que ninguém salva o mundo, muda de sexo, engorda (ou emagrece) cinquenta quilos”.

Será que Hollywood vai regressar à sua matriz que tanto sucesso lhe deu? Será que vamos passar a ter, outra vez, boas histórias, filmadas com competência e sem agendas políticas da treta?


Quando se acenderam as luzes depois da exibição de “Emília Perez” no Cine Clube de Viseu, houve palmas. Eu também aplaudi. No dia seguinte, a 24 de Janeiro, no podcast Olho de Gato emitido pela Rádio Jornal do Centro, fiz notar que aquele filme era “um canto de cisne dos valores woke.

Ora, como é sabido, aquele musical certinho e bem esgalhado foi o grande perdedor da noite dos Óscares que aconteceu no início desta semana. Tinha treze nomeações, só ganhou em duas. Quanto a isso, nada de novo. Já aconteceu a muitos filmes. 


Novo, mesmo novo, foi o motivo que levou a Netflix, depois de ter investido 25 milhões de dólares, ter decidido abandonar a promoção de “Emília Perez” por causa de uns posts racistas publicados nas redes sociais pela protagonista, a actriz trans espanhola Karla Sofía Gascón.

Há aqui uma lição amarga: doravante, antes de contratarem os artistas, os produtores vão primeiro avaliar o seu “cadastro” nas redes sociais.

2. Acabo de ler “Histórias de Jazz”, de Leonel R. Santos, editado pela Guerra & Paz. São catorze histórias, todas elas aviadas na primeira pessoa por um narrador masculino que bebe, fuma, charra, dança, lê policiais e banda-desenhada, sofre, alucina com dores-de-corno, ama, desama, odeia: a Cristina, a Clara, a “Fodinha-em-pé”, a “Carmen”, a Mafalda, a Ana Rita, a Sofia, a Teresa, a Maria, a Nadine, a Guadalupe, a Patrícia, a Manuela, a Guida, a Cristininha dos Olhos Azuis, a Tipa da Lapa, a Rita, a…

Não há no mercado mais nenhum livro como este. Cada um dos seus contos “inclui” uma banda sonora impregnada na narrativa. É um livro para gourmets musicais.


Comentários

Mensagens populares