Truca-truca*
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 11 de Abril de 2013
1. Desde o episódio da TSU em Setembro, o ministro Pedro Mota Soares tinha passado à clandestinidade, ninguém mais ouvira falar dele. Agora saiu da toca com uma nova ideia — dinheiros comunitários para part-times. Em politiquês: “empregabilidade parcial” para aumentar a natalidade.
Ciclicamente, os políticos querem mais bebés. O que é bom.
Podiam escolher o caminho de Assunção Cristas ou de, em tempos idos, Roberto Carneiro. Em suma, lembrando a grande Natália Correia, truca-trucarem mais e serem felizes. E deixarem as pessoas serem felizes.
Infelizmente, nada do que se tem feito desde que, em 2002, caímos no pântano ajuda a isso. Um povo feliz tem um governo pequeno e moderado nos impostos. Cá, levamos uma década perdida de políticos a ligarem o complicómetro, a tirarem abonos de família e a fazerem vigarices tipo “cheque-bebé”.
Não é fácil, assim, ser feliz. Um povo infeliz, para se distrair, tem que ver mais televisão. O problema é que, nas televisões, a toda a hora aparecem comentadores ex-futuros-políticos, e o povo fica mais infeliz ainda. Nada disso deve ser bom para a natalidade.
A sequência (i) bebés graças aos part-times, (ii) part-times graças a dinheiro europeu, (iii) dinheiro europeu graças à “senhora” Merkel, contém em si um fiasco algures. Vale mais nem pensar em que fase desta cadeia as pessoas vão perder a... pulsão.
Caro Pedro Mota Soares, pode regressar à toca outra vez.
2. Note-se: dividir por dois ou três o trabalho existente, trabalho que é cada vez mais escasso, é uma boa ideia, praticada há muito por exemplo na Holanda. Agora não se misture isso com decisões íntimas das pessoas.
3. Ninguém se admire que, também nas autárquicas deste ano, apareçam para aí umas 12635 propostas de política truca-truca. Ou mais. Será um combate municipal e freguesial que, finalmente, vai multiplicar os bebés.
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