Cartões amarelos*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 18 de abril de 2013   

1. No último Olho de Gato do ano passado escrevi aqui: “enquanto a generosidade das bases socialistas está focada nas próximas autárquicas, as elites pensam mais em legislativas antecipadas, apostando que Portas se divorcia de Passos”. Chamei a isso “deriva estratégica”.     

Seguro tem exigido a demissão do governo mas — como seria estúpido juntar-se à “rua” de Jerónimo e lhe fica mal jacobinar asneiras como Mário Soares - resta-lhe continuar a ligar para o roaming de Paulo Portas. Em resumo: a liderança do PS passou todos estes meses num corrupio mas não saiu do mesmo sítio.     

Nestes dois anos que leva de liderança, Seguro falhou o que se tinha proposto: nenhum candidato a uma câmara importante foi escolhido em primárias, as suas ideias sobre ética política foram metidas no congelador com medo dos socratistas e agora até ele é obrigado a papaguear a “narrativa” do PEC4.     

Seguro não tem agido, só reagido. Ao acto falhado da proto-candidatura de António Costa, reagiu com a artilharia toda do aparelho e obteve 96% dos votos, uma norte-coreanice para esquecer.

     

2. Caro António José Seguro, ligue lá ao Paulo Portas outra vez... Não o atendeu? Esqueça esse dançarino habilidoso. Mude de página. Abra um novo capítulo. Foque-se no essencial, homem. E o essencial é pôr os portugueses a falar, e esse falar não é na “rua” nem em sondagens. Esse falar é nas urnas, é nas próximas eleições autárquicas.     

Caro António José Seguro, faça o que Ferro Rodrigues e Sousa Franco fizeram nas europeias de 2004. Transforme as próximas autárquicas num cartão amarelo a este governo gasparino que não acerta uma.

No futebol dois cartões amarelos dão expulsão, trabalhe para serem milhões. Os autarcas socialistas agradecem. O eleitorado fica com uma motivação extra para ir votar. Foque-se, homem. Tome a iniciativa. Em vez de reagir, aja primeiro.


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