Felizardos Dos Popós*
* Publicado há exactamente dez anos no Jornal do Centro, em 7 de Dezembro de 2012
O título deste Olho de Gato inspira-se na querela recente num tribunal tripeiro onde esteve em causa se um “FDP” junto ao nome de Rui Rio queria dizer aquilo que é comum pensar-se querer dizer, ou queria dizer “Fanático Dos Popós”, conforme jurava o réu.
O assunto Felizardos Dos Popós, com carrinhos, combustível, portagens, seguro, tudo pago pelos nossos impostos, é pouco falado na nossa esfera pública. Sempre que alguém o levanta, leva o carimbo de “populista” e “anti-democrata”. Por isso, só se fala dos Felizardos Dos Popós nos comentários dos jornais, da blogosfera e das redes sociais.
É a segunda vez que o trato aqui. Da primeira defendi que os carros do estado deviam estar todos identificados como tal.
Dos bastidores das últimas negociações orçamentais entre os partidos da maioria, soube-se que o CDS queria moralizar o uso dos carros oficiais mas o PSD recusou.
O à-vontade com que a casta superior gasta os nossos impostos escapa à compreensão de um sueco, um holandês ou um alemão. Cá ninguém estranha.
Quando Freitas do Amaral abandonou o governo Sócrates mandou publicar um louvor à “absoluta discrição” do motorista “encarregado do apoio automóvel” à sua “família directa”. O blogue Corta-Fitas acha que este Felizardo dos Popós estava a gozar quando escarrapachou no diário da república que se sentiu “sempre muito tranquilo” por saber que os membros da sua “família mais próxima” estavam nas mãos do “pontual” motorista quando “precisavam dos seus serviços, de que sempre muito gostaram.” Involuntário mas, de facto, um gozo na nossa cara de pagadores de impostos.
Quando o topo usa assim os bens públicos, o exemplo replica-se pela máquina estatal abaixo. Ninguém se admire dos pilaretes com controle remoto que o dr. Ruas e o dr. Américo plantaram no Rossio para seu estacionamento privativo.
Comentários
Enviar um comentário