A luta entre as democracias e os petroestados*
* No Jornal do Centro aqui
Nos países democráticos, as alterações climáticas criaram uma forte pressão ecológica na opinião pública, especialmente nas gerações mais novas, pelo que cada vez são mais raros os políticos descaradamente pró-fósseis. A excepção que confirma esta regra foi Donald Trump, uma criatura errática em todos os assuntos menos na defesa do oil.
A União Europeia é a campeã das preocupações ecológicas, definiu metas ambiciosas para a descarbonização e essa estratégia voluntarista, sintonizada com o Tratado de Paris, custou-lhe a hostilidade e a sabotagem nada discreta do casal Trump/Putin. Pela primeira vez na sua história, e por causa da sua agenda verde, o soft power comunitário passou a ter inimigos externos assumidos e que financiam toupeiras internas à esquerda e à direita que nunca se assumem.
Trump já cá não está, Putin meteu-se numa camisa de onze varas na Ucrânia. Também na “energia”, os sonhos imperiais do senhor do Kremlin são um gigantesco tiro no pé.
Entendamo-nos: a dita “transição energética” vai continuar a penalizar os combustíveis, especialmente o diesel. Entre nós, mais do que objectivos ambientais, as subidas no ISP servem para ir tapando buracos orçamentais.
Esta pressão fiscal penaliza, acima de tudo, o interior, os pobres, os suburbanos, os rurais, todos os que não têm dinheiro para comprar veículos eléctricos e têm pouco ou nenhum acesso a transportes públicos subsidiados.
Entretanto, os petrodólares lá vão comprando tempo, causando convulsões, deitando abaixo uns políticos e elegendo outros, lá vão atrasando o inevitável.
A transição para fontes de energias “limpas” vai ser feita de uma forma não linear, com avanços e recuos. Os avanços vão ser operados pela ciência e pelas empresas. Os recuos pelos petroestados e pelas lutas radicais dos “activistas”-melancia que, como se sabe, são verdes por fora e vermelhos por dentro.
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