Boas saídas!*

*No Jornal do Centro aqui

1. A geringonça quis renacionalizar a TAP e, para o efeito, enterrou lá um quarto do que nos custou o BES, espatifou lá meio BPN, pôs a voar um Banif inteirinho. Foram três mil e duzentos milhões de euros. Um balúrdio. 

Há um ano, no Observador, Rodrigo Adão da Fonseca publicou uma lista de “políticas públicas de direita ou de esquerda” que poderiam ter sido executadas com aquele dinheiro: 

 — “dobrar o valor do Rendimento Mínimo Garantido e do Rendimento Social de Inserção nos próximos dez anos”,

— “construir 36 mil fogos para habitação social,”

— “alavancar o projeto TGV em Portugal,”

— “financiar uma rede de cuidados domiciliários para apoio a 20 mil idosos, durante dez anos,”

— “reduzir significativamente o IRC a pagar pelas PME nos próximos três anos.”

Pedro Nuno Santos — o político preferido da geringonça — não achou prioritário aplicar aqueles três mil e duzentos milhões de euros na ajuda aos pobres, ou aos velhos, ou no TGV, ou nas PME, preferiu enterrá-los na TAP.

Foi uma asneira. Contudo, o que está feito, feito está. Agora, há que dar a solidez possível àquela transportadora aérea. E depois despachá-la.

Hoje é o último dia do ano. Neste dia, costuma desejar-se às pessoas umas “boas entradas!” No que diz respeito ao buraco sem fundo chamado TAP, esta coluna deseja aos martirizados contribuintes portugueses umas “boas saídas!” 

2. Em Maio de 2018, num congresso do PS, António Costa sentiu a necessidade de ir ao microfone bradar: “Aviso já que não meti os papéis para a reforma.” Isto é, pediu paciência à impaciência aos seus “sucessores”. 

Depois, julgou que resolvia o problema metendo-os a todos no governo. Não resolveu. Pelo contrário, a situação agravou-se. Há mais gente a sonhar com a cadeira do chefe; mais lutas surdas; mais pressa das clientelas em ir ao pote; mais fugas de informação. E governantes a caírem como tordos. 

As coisas não estão bonitas nem fáceis, mas o primeiro-ministro ainda tem condições para segurar o barco. Para isso, precisa de um governo forte, que ponha os serviços públicos a funcionar e que baixe os impostos sobre os bens essenciais e sobre os salários e as pensões. Isto é, precisa de um governo com ministros que governem mais e intriguem menos.

Era bom que António Costa, na remodelação que vai ter de fazer, limpasse a casa e providenciasse a todos os que se julgam seus “delfins” umas “boas saídas!”

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