Leituras*
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 4 de Agosto de 2006
1. Acabo de ler dois pequenos livros viciantes, daqueles que, quando se começam, só se param na última página.
Um deles, “Diário de Um Killer Sentimental”, é um policial negro de Luís Sepúlveda. A minha edição tem menos de oitenta páginas e é uma boa tradução de Pedro Tamen. Eis uma amostra:
“«Quantos anos tens?», perguntei.
«Vinte e quatro», respondeu ela com uma boca pequena e vermelha.
«Eu tenho quarenta e dois», confessei-lhe contemplando os seus olhos de amêndoa.
«És um homem novo», mentiu ela (…)”
Quarenta e dois anos é uma boa idade para dar uma volta à vida. Ele, o killer, perdeu a prudência e pôs-se a ensiná-la e a fazê-la. Ela “deu um grande salto de garota para gata.” O killer ficou preso às suas ancas florescidas. Um dia, um maldito dia, chegou um fax da gata a dizer-lhe que gostava doutro. (Se fosse agora, em vez do fax, iluminava-se uma sms no telemóvel.) Acontece. Até a assassinos profissionais no meio duma “encomenda”.
Corri o Google e a Imdb e não achei nenhum filme feito a partir desta história. Tem que haver. Só pode ter sido falhanço na minha pesquisa.
2. O outro livro que li foi “Morreste-me”, de José Luís Peixoto, e é uma longa carta do autor ao seu pai: “E, como se adormecesses, vejo-te fechar as pálpebras sobre os olhos que nunca mais abrirás. Os teus olhos fechados para sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai. Tudo o que te sobreviveu me agride. Pai. Nunca esquecerei.”
Palavras sofridas. De adeus. De choro. Palavras por meu pai que se foi em Novembro. E o pai do Carlos. E, depois, o do Miguel. E agora o do Paulo. E por todos os pais de todos os filhos.
Benditas palavras bem ditas de José Luís Peixoto. Vou ler todos os seus livros.
1. Acabo de ler dois pequenos livros viciantes, daqueles que, quando se começam, só se param na última página.
Um deles, “Diário de Um Killer Sentimental”, é um policial negro de Luís Sepúlveda. A minha edição tem menos de oitenta páginas e é uma boa tradução de Pedro Tamen. Eis uma amostra:
“«Quantos anos tens?», perguntei.
«Vinte e quatro», respondeu ela com uma boca pequena e vermelha.
«Eu tenho quarenta e dois», confessei-lhe contemplando os seus olhos de amêndoa.
«És um homem novo», mentiu ela (…)”
Quarenta e dois anos é uma boa idade para dar uma volta à vida. Ele, o killer, perdeu a prudência e pôs-se a ensiná-la e a fazê-la. Ela “deu um grande salto de garota para gata.” O killer ficou preso às suas ancas florescidas. Um dia, um maldito dia, chegou um fax da gata a dizer-lhe que gostava doutro. (Se fosse agora, em vez do fax, iluminava-se uma sms no telemóvel.) Acontece. Até a assassinos profissionais no meio duma “encomenda”.
Corri o Google e a Imdb e não achei nenhum filme feito a partir desta história. Tem que haver. Só pode ter sido falhanço na minha pesquisa.
2. O outro livro que li foi “Morreste-me”, de José Luís Peixoto, e é uma longa carta do autor ao seu pai: “E, como se adormecesses, vejo-te fechar as pálpebras sobre os olhos que nunca mais abrirás. Os teus olhos fechados para sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai. Tudo o que te sobreviveu me agride. Pai. Nunca esquecerei.”
Palavras sofridas. De adeus. De choro. Palavras por meu pai que se foi em Novembro. E o pai do Carlos. E, depois, o do Miguel. E agora o do Paulo. E por todos os pais de todos os filhos.
Benditas palavras bem ditas de José Luís Peixoto. Vou ler todos os seus livros.
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