Sentidos
Fotografia de Andreas Feininger |
De vez em quando,
uma emoção em falso,
a ferida abre-se:
e eles entram solenes,
os meus mortos
Migram dos sítios quentes
onde os tenho de cor,
e as folhas do arbusto na varanda
em frente à minha cama
trazem as suas vozes
E quanto mais a luz é sobre a ferida,
mais eles aí estão
Cobre-as, às folhas,
o cortinado da janela larga,
e o que avisto daqui
é só um gume a verde,
de nem fotografia
porque em dança
Não me assustam
nem gritam, os meus mortos,
só me lembram que a chuva
que agora se insinua devagar
lhes foi tempo e morada,
e eles a mim
Que alguns deles olharam
nesta mesma varanda
as mesmas folhas,
mais jovens e mais verdes,
ou que outros deles viram outras folhas,
mais jovens, mas sem cor
Neste tempo de agora que os não tem,
aos meus mortos,
cresceram pouco as folhas,
e a emoção em que os tropeço, e a mim,
não os fazem nascer
(Tomara o lume
que as mantém em vida
fosse o gume na ferida
de os não ter)
Ana Luísa Amaral
Texto sentido:
ResponderEliminarUm outro "patinho feio", Gabriel Alves (10 de jul) escreveu durante o jogo:
"Uma perda enorme saída de Cristiano, mas fica para a história como tendo superado Platini, nem que seja só por não ser criminoso."
Lindo,pá!
Texto sentido
ResponderEliminar"Há mais dias que linguiças"
HENRIQUE MAGALHÃES
(…)
Como a primeira fase já voou nos cabelos de Junho é altura de celebrar. (…)
A todos os professores que pertencem à máfia dos 0,4 que, impressionantemente, acham que se subirem uma décima o mundo vai acabar!
E a todos os nossos colegas que nos perguntam a nota e antes de respondermos, já eles declamaram para toda a sala ouvir que tiveram mais.
Agradeço-vos profundamente, como seria o meu desempenho escolar se não fossem vocês?
(…)
13/07/2016
https://www.publico.pt/sociedade/noticia/ha-mais-dias-que-linguicas-1738222
Tenho acompanhado com muito interesse as crónicas de HENRIQUE MAGALHÃES (concluiu o 12.º ano na Escola Secundária Rainha Dona Amélia, em Lisboa).
Miúdo sagaz, inteligente e sem “freio nos dentes”…
O texto de hoje é mortal!
As duas frases que destaco atingem um sistema perverso de avaliação do ensino secundário e as relações “amigáveis” entre colegas de turma.
Das coisas que mais custam é saber que há muito que desistimos de entender esta escola, este sistema educativo. Não acreditamos em nada do que ela representa.
A ditadura dos centros de explicações; a paranoia das médias, dos rankings e do “número de entradas em medicina”, como sinónimos de “qualidade” (??!!), nada há de mais triste do que isso!
Tudo aquilo que acreditámos poder ser uma escola de liberdade, conhecimento e curiosidade está hoje plasmado num sentido inverso.
Continuamos a lamentar a perda de um imenso número de professores que abandonaram com profunda tristeza e injustiça, e que tanto ainda tinham para dar. Há um tempo para tudo, para acreditar e para ver que estamos a mais, porque não conseguimos mudar nada.
A incapacidade de reflexão é de tal modo aguda que assusta, a incapacidade de compreensão é de tal modo forte que é devastadora perante a estupidificação de um sistema que promove a maldade: “E a todos os nossos colegas que nos perguntam a nota e antes de respondermos, já eles declamaram para toda a sala ouvir que tiveram mais.”
E continuamos como se tal fosse coisa correcta.
Abraço.