Dias felizes*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


1. Entre 4 de Fevereiro (dia da entrega do orçamento de estado) e 16 de Março (dia em que foi aprovado) passaram-se 41 dias felizes no parlamento. Como António Costa mostrou abertura a alterações naquele diploma, os deputados do PS, BE, PCP, PEV, PAN, até do pàfiano CDS, entraram na festa.

Foi uma festa vegan que reduziu o IVA ao tofu e à soja, o que levará à diminuição do perímetro abdominal dos portugueses e dará trabalho extra às costureiras na mingação das nossas calças, para que não caiam.


Fotografia daqui

Nestes 41 dias de recreio, os deputados divertiram-se muito. A senhora dona Catarina Martins esganiçou-se a iluminar o país com “electricidade social” e Jerónimo de Sousa não lhe ficou atrás e borleou os livros do primeiro ano, os dos ricos e os dos pobres.

A verdade é que houve ideias boas: o apoio a desempregados de longa duração; e houve ideias mal pensadas: a decisão de borlas nos manuais escolares, com ou sem aplicação de condição de recursos, devia continuar a ser deixada aos municípios.

E houve ideias anedóticas: como a do desconto no IMI de vinte euros por filho. Como muito bem disse João Miranda, no blogue Blasfémias, se é para ajudar as famílias com uma verba fixa por filho, para quê ligar o complicómetro burocrático do IMI e não aumentar directamente o abono de família?

De qualquer forma, importa descansar o leitor: estas semanas de felicidade no parlamento não ficaram muito caras — deram um aumento de 158 milhões de euros na despesa e de 118,7 milhões na receita. Foram só 39,3 milhões de agravamento orçamental. Uma “ninharia” que serviu para dar algum aperto aos parafusos da geringonça.

2. Não se conhecem resultados escrutináveis das eleições internas do PS do último fim-de-semana.

Anunciam-se percentagens “norte-coreanas” à volta de 90% e mais nada. Não há números a nível concelhio, nem distrital, nem nacional. Esta opacidade é uma vergonha, sra. Adelaide Modesto**, sr. António Borges**, sr. António Costa.

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** Já depois de fechada a edição do Jornal do Centro na quarta-feira, o PS-Viseu publicou os resultados eleitorais completos que podem e devem ser analisados aqui
Vale mais tarde do que nunca.  

Comentários

  1. Há 6 meses a dar cabo da narrativa dos direitolas, dá um certo gozo!

    Nem com tudo se concordou? Obvio!
    Um ou dois exemplos negativos: o fim dos exames – uma má mensagem profissional aos professores e uma péssima mensagem cívica aos alunos; a bancada parlamentar do PCP uniu-se às do PSD e CDS no hemiciclo e chumbou o projeto de lei do Bloco de Esquerda contra o uso do herbicida cancerígeno glifosato. No parlamento europeu, PSD E CDS votaram pela limitação do uso do glifosato em áreas urbanas. No parlamento português, votaram contra. A Monsanto agradece-lhes! Nunca esquecer que o pesticida RoundUp, baseado no glifosato, rende anualmente 5 mil milhões de euros à Monsanto!! Nos EUA, cantores como Neil Young têm feito um trabalho de combate e denúncia à Monsanto e ao seu papel destruidor de pequenos agricultores e do meio ambiente.

    Mas também capazes do melhor: o final da "fronteira da hipocrisia" coma aprovação da lei da procriação medicamente assistida para todas as mulheres, sem discriminações, independentemente do seu estado civil, da sua orientação sexual, todas, todas as mulheres. Votos favoráveis do PS/PCP/BE/PEV/PAN/alguns deputados e deputadas do PSD.

    Mas foram 6 meses a desmontar o discurso do Sr do pin e da srª “digna sucessora” do submarino amarelo; uns insignes representantes da ideologia mais perigosa (porque aparenta que não é ideologia), a do chamado "senso comum". A ideologia das trivialidades e dos lugares comuns: “É preciso sair da zona de conforto e trazer o debate da mesa do café para fóruns mais alargados, sem clubismos nem crachás na lapela”.

    Uma comissão europeia “mortinha” por nos arrasar (e com “ditos socialistas” à cabeça); um falso problema com os colégios (que tanto gostariam que houvesse uma Procuradoria privada com contrato de associação…); uma parceria Assis/JSD que se revelou com semelhantes capacidades intelectuais e um Marcelo a necessitar de fazer uma viagem a um país distante para ver se reencontra o Presidente…, e tantas outras coisas.

    Mas, as ideologias não morreram; a luta de classes não passou de moda; não estamos no mesmo lado da barricada; não temos a mesma visão e projecto para o país! Pois como dizia o meu professor de Matemática, Joaquim Namorado: “Sou de Alter do Chão, terra de criadores de cavalos; o que é um privilégio, num país de burros”.
    Que venham mais 6 meses, porra!

    "Chamar-te a ti Lisboa camarada..." - O que eu gosto deste poema de Joaquim Pessoa na voz de Carlos Mendes.
    Ora onde é q eu tenho o vinil?!




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