Religiões *
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 18 de Fevereiro de 2005
1. Foi numa juke-box da Feira de S. Mateus que descobri – ainda menino e moço - o “Light My Fire”, dos Doors. A partir daí, a minha relação com os Doors nunca mais acabou. Tenho discos pretos deles cheios de estática porque tocaram muito e em gira-discos pouco recomendáveis. Tenho cassetes de ferro, de crómio e de metal. VHS. DVD. MP3. DIVX. Migrei com os Doors por todos os suportes de informação.
Gosto dos Doors e vejo malta de 20 anos que ainda é mais entusiasta que eu.
Foi por isso que não resisti a um daqueles destaques gráficos do Jornal do Centro de cimo de página que bate mesmo nos olhos dos leitores mais distraídos. Eram quatro linhas que anunciavam o lançamento do livro de Rui Pedro Silva, “Contigo Torno-me Real”, na Livraria Polvo. Lá fui eu comprar o livro e pedir um autógrafo ao Rui Pedro. O autor assume-se como o fan primeiro dos Doors em Portugal. O livro é uma antologia de depoimentos sobre a banda, uns com mais interesse, outros com menos.
Esses testemunhos lembram-nos que muita da religiosidade urbana, nos nossos dias, passa pelos rituais da música popular e, provavelmente, o primeiro responsável por isso foi o Sumo Sacerdote, o Shaman, o líder dos Doors, Jim Morrison, quando cantou coisas como o final da canção “Angels and Sailors”: “Nós podíamos planear um crime / Ou iniciar uma religião.”
2. Tenho, no meu computador, um videoclip de três minutos e vinte e dois segundos de propaganda do PSD. A música deste clip - que o PSD usou prolixamente nesta campanha eleitoral - é uma versão portuguesa de “Guerreiro Menino (Um homem também chora)”, de Gonzaga Jr., do disco “Palavra de Amor”. Pode encontrar uma outra versão, poeticamente muito mais estimulante, em http://letras.com/gabriel-pensador/96122/
Este documento audiovisual tem sessenta e um (!) planos de Pedro Santana Lopes, guerreiro menino, guerreiro infeliz lutando contra ventos e marés, guerreiro carente do beijo endossado, do além para o aquém, por Conceição Monteiro, secretária de Sá Carneiro.
Ao longo do clip, vai passando em legenda o poema, pelo que as palavras chegam-nos pelos ouvidos e chegam-nos pelos olhos. Ei-las:
Nesta retórica audiovisual, Pedro Santana Lopes é só já um mártir e o seu caminho mete dó. Ele transporta uma cruz. Com este videoclip, o ego desmedido de Pedro Santana Lopes dá mais um impulso a esta nossa Jangada de Pedra a navegar para o terceiro mundo: ele está pronto para ser o ícone no altar duma nova religião.
3. Como foi possível o PSD, um dos pilares da nossa democracia, ter-se deixado chegar a este grau de acossamento?
Marques Mendes vai ter muito trabalho pela frente para compor o que a deserção de Barroso e a inanidade de Santana estragaram. Desejo-lhe sucesso porque Portugal precisa dum PSD responsável e com sentido de Estado.
1. Foi numa juke-box da Feira de S. Mateus que descobri – ainda menino e moço - o “Light My Fire”, dos Doors. A partir daí, a minha relação com os Doors nunca mais acabou. Tenho discos pretos deles cheios de estática porque tocaram muito e em gira-discos pouco recomendáveis. Tenho cassetes de ferro, de crómio e de metal. VHS. DVD. MP3. DIVX. Migrei com os Doors por todos os suportes de informação.
Gosto dos Doors e vejo malta de 20 anos que ainda é mais entusiasta que eu.
Foi por isso que não resisti a um daqueles destaques gráficos do Jornal do Centro de cimo de página que bate mesmo nos olhos dos leitores mais distraídos. Eram quatro linhas que anunciavam o lançamento do livro de Rui Pedro Silva, “Contigo Torno-me Real”, na Livraria Polvo. Lá fui eu comprar o livro e pedir um autógrafo ao Rui Pedro. O autor assume-se como o fan primeiro dos Doors em Portugal. O livro é uma antologia de depoimentos sobre a banda, uns com mais interesse, outros com menos.
Esses testemunhos lembram-nos que muita da religiosidade urbana, nos nossos dias, passa pelos rituais da música popular e, provavelmente, o primeiro responsável por isso foi o Sumo Sacerdote, o Shaman, o líder dos Doors, Jim Morrison, quando cantou coisas como o final da canção “Angels and Sailors”: “Nós podíamos planear um crime / Ou iniciar uma religião.”
2. Tenho, no meu computador, um videoclip de três minutos e vinte e dois segundos de propaganda do PSD. A música deste clip - que o PSD usou prolixamente nesta campanha eleitoral - é uma versão portuguesa de “Guerreiro Menino (Um homem também chora)”, de Gonzaga Jr., do disco “Palavra de Amor”. Pode encontrar uma outra versão, poeticamente muito mais estimulante, em http://letras.com/gabriel-pensador/96122/
Este documento audiovisual tem sessenta e um (!) planos de Pedro Santana Lopes, guerreiro menino, guerreiro infeliz lutando contra ventos e marés, guerreiro carente do beijo endossado, do além para o aquém, por Conceição Monteiro, secretária de Sá Carneiro.
Ao longo do clip, vai passando em legenda o poema, pelo que as palavras chegam-nos pelos ouvidos e chegam-nos pelos olhos. Ei-las:
3. Como foi possível o PSD, um dos pilares da nossa democracia, ter-se deixado chegar a este grau de acossamento?
Marques Mendes vai ter muito trabalho pela frente para compor o que a deserção de Barroso e a inanidade de Santana estragaram. Desejo-lhe sucesso porque Portugal precisa dum PSD responsável e com sentido de Estado.
Ora então falemos de DEUSES...
ResponderEliminarSr Gato, não me recordava de tão vibrante texto.
Revejo-me muito na primeira parte quando evoca os DOORS.
Falamos de Deuses e das palavras que ecoam nas nossas cabeças (para sempre):"Ladies and gentlemen! From Los Angeles, California...The Doors!".
A segunda parte é mais dolorosa (já foi há dez anos???) pois recorda um episódio de "paixão, dor e teatralidade", tão ao gosto desse "deus" da Caras, Lux e Cª.
Este "deus" continua a andar por aí com um séquito de "cortesãos" que lhe dão guarida e destaque. Santana já tem idade e estrada para não desejar ficar na história como o ídolo da ideologia zero.
Os DEUSES morrem sempre aos 27 anos !!!
Os deuses, sim, JB, os "meninos guerreiros" ficam a "andar por aí!"
EliminarAbraço