"O futuro vem nos livros!", um texto de JB *

* Comentário de JB ao post "Sísifo" deste blogue, publicado na sexta-feira 


Seguro já se apagou e será recordado pelo seu discurso estereotipado e pela “abstenção violenta", que ficará como uma página de vergonha para o PS. Esteve bem o autor deste blog quando recordou que a paciência tem limites, apontando que Maria de Belém não cumpriu na sua qualidade de presidente do partido socialista. O caminho da saída, é óbvio!

A escolha de Ferro Rodrigues para liderar os deputados socialistas é um bom sinal para um início de mandato, mas Sérgio Sousa Pinto foi demolidor no seu facebook quando afirmou: 
”Está visto que mais depressa passa um camelo por um buraco da agulha que um rico sobe ao céu ou o PS se liberta da sua cultura do unanimismo. É uma coisa pré-democrática, de quem acha que as diferenças devem ser niveladas, as ideias fundidas como uma bola de plasticina e a unidade construída numa espécie de comunhão de missa, onde os salmos cedem lugar a bandeiras e punhos erguidos. Lamento a autenticidade perdida do passado”. 
Mas clamam os interessados, apelam os poderosos que o tempo é de unir o que esteve desavindo dentro do PS.

Com um governo a entrar na fase do descalabro, a chamada pré-implosão, sendo a justiça e a educação dois casos flagrantes. Em ambos, não há inocentes, mas uma ideia política de destruição do bem público. No caso da educação, a imagem de descrédito montada por Lurdes Rodrigues e continuada por Crato (curiosamente dois ex “muito à esquerda”) é muito dolorosa de assistir e vai ter efeitos inimagináveis. A náusea persiste mas o governo resiste a todos os empurrões. E como cenário, há um senhor em Belém que diz sempre: “eu avisei”!

O verdadeiro desafio está no PS e nas suas futuras práticas políticas. Que orientação política? Um parceiro confiável do PSD e do CDS e um parceiro de referência dos detentores do poder económico e financeiro ou um PS fiel ao seu ideário social-democrata e socialista? Ao fazer uma Santa Aliança com os seguristas (que se irá refletir na elaboração de listas, blá, blá), Costa abre espaço ao temor de que se possa caminhar para uma Sagrada Aliança com o CDS ou uma Suprema Aliança com Rui Rio, num futuro breve, perto de si. E esse cenário de um PS no governo, a aplicar o Pacto Orçamental com cortes, privatizações a preço de saldo, desregulação, despedimentos, desemprego, desigualdade, caridade, miséria e a andar de braço dado com os impiedosos e desumanos “mercados” (numa economia de casino) será fatal para o sistema político e benéfico para os “marinhos salvadores pintos”.

Costa não precisa de prometer muito (até porque não tem espaço) mas uma imagem e prática de credibilidade será fundamental. Se Costa tiver o firme objetivo de aprofundar e dar um sentido de justiça e ética à democracia, se tiver a coragem de fazer uma política que ponha a justiça à frente da finança, de construir na União as alianças necessárias para inverter as políticas desastrosas que nos afundam, de pôr em causa o Tratado Orçamental, de impor aos credores uma renegociação justa da dívida, então teremos um PS mais mobilizado e empenhado numa trajetória politicamente mais ambiciosa e socialmente mais justa. As pessoas estão descrentes e uma vaga esperança, nada de radical, já é alguma coisa. Obama provou que mais importante que políticas concretas é mudar o estado de espírito das pessoas.

E só o tempo dirá como se vai relacionar Costa com a esquerda à esquerda do PS e vice-versa. Mas a mirífica unidade de esquerda não tem grandes hipóteses de vingar com a mentalidade dos atuais donos (e herdeiros) da esquerda toda, ainda muito tocados pelo “síndrome de 1975”.

Não participei nas primárias do PS e não comungo de grandes esperanças num António Costa socialista (embora lhe reconheça maior capacidade de diálogo à esquerda e com a sociedade civil e os movimentos sociais), mas não perco a capacidade de me indignar e sobretudo não me demito de opinar, de me interrogar e de desafiar os outros para me acompanharem nas inquietações, dúvidas e enganos mas sempre primando pela defesa dos valores da liberdade, da democracia, do Estado social, da igualdade e do cosmopolitismo.



Bem que precisámos de um Moretti a gritar: 

"Digam alguma coisa de esquerda!"

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