Sorte moral *
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente quatro anos, em 11 de Junho de 2010
O nazismo foi Auschwitz mas foi também Buchenwald, foi o extermínio em massa dos judeus mas foi também o assassínio de comunistas, de socialistas, de homossexuais, de ciganos, de deficientes.
E isso aconteceu na Alemanha da filosofia e da música, na Alemanha que, com Bismark, foi pioneira na protecção dos mais fracos e explorados, na Alemanha onde nasceu o estado providência, ainda no séc. XIX.
O tempo sara as feridas mesmo as que em 1945, no final da 2ª guerra mundial, estavam em carne viva. A Alemanha reconstruiu-se mergulhada na culpa colectiva e pagou um preço alto pela barbárie que cometeu.
Por exemplo, a “política agrícola comum”, com o seu cortejo de subsídios e irracionalidade económica, foi uma suave ferramenta usada para que a Alemanha pagasse indemnizações de guerra à França.
Depois de o muro de Berlim ter caído, o chanceler alemão Helmut Kohl falou da “graça do nascimento tardio”. A maioria dos alemães já não podia ser acusada de ter alguma coisa a ver com Auschwitz.
A isto chama-se “sorte moral” – viver um tempo de escolhas fáceis entre o bem e o menos bem. Para ser ainda mais explícito: é uma “sorte moral” viver-se um tempo em que não se abrem concursos para o lugar de guarda em Auschwitz.
Quando os alemães trocaram o seu forte marco pelo euro, fizeram uma profissão de fé na “Europa” e continuaram a fornecer milhões em fundos comunitários para os países corruptos do sul. Fundos esses que foram derretidos alegremente.
A actual turbulência do euro acaba de tornar evidente aos alemães que o seu europeísmo militante valeu de pouco e a ”Europa” mete água por todos os lados.
Os alemães, que agora têm a “sorte moral” de já não sentirem nem terem que sentir as culpas da guerra, vão assumir sem complexos o seu lugar no mundo.
A “Europa” que se precate.
O nazismo foi Auschwitz mas foi também Buchenwald, foi o extermínio em massa dos judeus mas foi também o assassínio de comunistas, de socialistas, de homossexuais, de ciganos, de deficientes.
E isso aconteceu na Alemanha da filosofia e da música, na Alemanha que, com Bismark, foi pioneira na protecção dos mais fracos e explorados, na Alemanha onde nasceu o estado providência, ainda no séc. XIX.
O tempo sara as feridas mesmo as que em 1945, no final da 2ª guerra mundial, estavam em carne viva. A Alemanha reconstruiu-se mergulhada na culpa colectiva e pagou um preço alto pela barbárie que cometeu.
Por exemplo, a “política agrícola comum”, com o seu cortejo de subsídios e irracionalidade económica, foi uma suave ferramenta usada para que a Alemanha pagasse indemnizações de guerra à França.
Fotografia daqui |
Depois de o muro de Berlim ter caído, o chanceler alemão Helmut Kohl falou da “graça do nascimento tardio”. A maioria dos alemães já não podia ser acusada de ter alguma coisa a ver com Auschwitz.
A isto chama-se “sorte moral” – viver um tempo de escolhas fáceis entre o bem e o menos bem. Para ser ainda mais explícito: é uma “sorte moral” viver-se um tempo em que não se abrem concursos para o lugar de guarda em Auschwitz.
Quando os alemães trocaram o seu forte marco pelo euro, fizeram uma profissão de fé na “Europa” e continuaram a fornecer milhões em fundos comunitários para os países corruptos do sul. Fundos esses que foram derretidos alegremente.
A actual turbulência do euro acaba de tornar evidente aos alemães que o seu europeísmo militante valeu de pouco e a ”Europa” mete água por todos os lados.
Os alemães, que agora têm a “sorte moral” de já não sentirem nem terem que sentir as culpas da guerra, vão assumir sem complexos o seu lugar no mundo.
A “Europa” que se precate.
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