Organizadores*
* Publicado anteontem no Jornal do Centro
Escrevo
esta crónica na sexta-feira dia 14. Esta antecipação de uma semana
é um “tem que ser” pessoal que pode tornar esta crónica
obsoleta, já que estamos em pleno momento de aceleração política,
e, quando estas linhas chegarem às mãos dos leitores, pode até não
haver governo, embora isso não seja provável. Os silêncios e o
suspense de Paulo Portas devem-se só à preparação do estômago do
CDS para a digestão da dose nutrida de sapos incluídos no próximo
orçamento de estado.
As legislativas do ano passado foram as mais mentirosas desta terceira república. Nem José Sócrates, nem Passos Coelho, nem nenhum outro
político explicou que o programa do governo que ia sair das eleições
ia ser o memorando de entendimento assinado com os credores.
Imagem daqui |
O
país vive, desde 17 de Maio de 2011, em estado de negação: ninguém
assume que somos neste momento um protectorado nas mão dos credores.
É claro que os políticos — sob pena de passarem a ser vistos como
meros feitores do rectângulo — não o podem reconhecer e, por
isso, todos eles têm usado o velho truque de Jean Cocteau: “uma
vez que estes mistérios nos ultrapassam, finjamos ser os seus
organizadores.”
A
Troika, o “organizador” dos sacrifícios que estamos a sofrer,
funcionava como pára-raios perfeito da impopularidade. Um dos seus
trabalhos é mesmo esse: servir de bode expiatório para as opiniões
públicas dos países intervencionados.
Só
que Passos Coelho preferiu fingir que era ele o “organizador”
daquele iníquo
“subtraio-aos-trabalhadores-para-somar-aos-empresários”. O
primeiro-ministro não ter percebido que isso era um erro crasso é
um mistério.
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