Os fálgaros
* Publicado hoje no Jornal do Centro
Na
semana passada, o director do Jornal do Centro deixou aqui descritas
muitas iguarias. Reparei numa de Tabosa de Sernancelhe que nunca
tinha ouvido falar: os “fálgaros imortalizados literariamente por
Aquilino”, pães de azeite com queijo de cabra fresco no interior.
Fotografia de Paulo Neto |
Fiquei
a saber que o bom gosto gastronómico de Aquilino Ribeiro não se
ficava pelo, como ele dizia, “peixe mais saboroso de toda a fauna
das águas, as trutas do Paiva”, mas também pelos fálgaros.
Merece
ser lembrada uma história de Aquilino ocorrida há cem anos quando
ele vivia em Paris e abordou os editores Aillaud e Francisco Alves
para o publicarem. Foi numa hora propícia, estavam eles a sair de um
restaurante. Conta ele: «não há como vir a lamber o beiço dum
almoço à francesa, regado com vinhos devidamente capitosos, um
Sauterne, um velho Bordéus, para dispor-se à benignidade.»
Assim
aconteceu: os editores aceitaram de bom grado publicar Jardim
das Tormentas
e, ouro sobre azul, pagaram-lhe logo os direitos de autor — mil e
quinhentos francos, uma fortuna em 1912.
Um
jornal do Rio de Janeiro, uns bons anos depois, perguntou a Aquilino
se ele guardara aquela bagalhoça. Resposta, com o coração nas
mãos, do mestre: «em Paris poupar dinheiro só eles, os franceses.
Para mim e outros iguais a mim não só era ilusório como revelador
de maus instintos. (…) Depois de uma pândega heliogaldesca com a
troupe, alguém propôs que fôssemos até (...) um casino em que
havia dancing, jogo (…) Gastei, gastei e, às 4 horas da madrugada,
não me restava na algibeira com que mandar cantar um cego.”
A
entrevista, imperdível, inclui até uma “moral” para esta
história e está transcrita nos boletins de Janeiro e Abril de 2011
da câmara de Moimenta da Beira.
Fica,
para acabar, uma reivindicação laboral ao meu director: quando
vamos a Tabosa, Paulo Neto?
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