Os do costume
* Publicado hoje no Jornal do Centro
1. Após as derrotas nas eleições autárquicas de 2001, o engenheiro António Guterres demitiu-se de primeiro-ministro e líder do PS. O partido entrou logo em processo de escolha de um novo líder. Concorreram Ferro Rodrigues e Paulo Penedos. A votação foi desequilibrada. Desequilibradíssima. No concelho de Viseu, Ferro Rodrigues teve umas dezenas de votos dos militantes e Paulo Penedos teve zero votos.
Após a derrota nas eleições legislativas de 2011, o engenheiro José Sócrates demitiu-se de primeiro-ministro e de líder do PS. O partido entrou imediatamente em processo de escolha de um novo líder. Concorreram António José Seguro e Francisco Assis. A votação nacional foi, em números grossos, dois votos em Seguro por cada um em Assis. Na secção de Moimenta da Beira, António José Seguro teve 72 votos e Francisco Assis teve zero votos.
Ora, quer os zero votos em Paulo Penedos em 2001, quer os zero votos em Francisco Assis dez anos depois, são uma anomalia e uma infelicidade. Os militantes socialistas, ao votarem todos da mesma maneira, fizeram com que o seu voto deixasse de ser secreto. Toda a gente ficou a saber onde votou toda a gente.
2. Cairo, Tunes, Atenas, Santiago do Chile, Barcelona, Telavive, Wisconsin, Hama, Bengasi, Londres: cresce o turbilhão nas ruas e nas praças do mundo.
A crise sistémica global está a aumentar a tensão social.
Imagem daqui |
Apesar dos putativos “brandos costumes” dos portugueses, a preocupação de Pedro Passos Coelho com a concertação e o apaziguamento social é realista e prudente.
Convinha é que — ao contrário da facada que acaba de dar nos subsídios de Natal — não continuasse a massacrar os do costume e a deixar fora dos sacrifícios os do costume.
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