Arco-Íris *


     Chovia como num filme de Andrei Tarkovski. Água, muita água, cântaros de água, caíam dos céus. Finalmente, a tão esperada chuva caía horas seguidas sobre a cidade, limpando o ar.
     Eles iam a sorrir. Um com o outro. Um para o outro. Um ele e uma ela. Rua abaixo. Eram donos da vida e do tempo. Nem viam as montras nem as pessoas. Passavam por cima da água que não vencia a estreiteza das sarjetas.
    Entre eles era uma raiva brincada. “Maldito sejas!”; “maldita sejas!”; “cala-te!”; “não me calo nem me fico, quem é que julgas que és tu, meu palerma?”. Aquelas palavras soavam, nos ouvidos deles, como um carinho. Instalara-se entre eles aquela ternura estranha. Aquele paradoxo. A chuva ria-se daquela dessintonia entre as palavras deles e o gostar deles.
     As pessoas olhavam e desviavam-se. Tinha que ser pois eles, como já se disse, não viam ninguém. Nem das poças de água se desviavam.

     Entraram numa pastelaria. Pediram o mesmo chá de tília para duas chávenas. A mesma torrada para dois. Partilharam as fatias de dentro da torrada. As fatias sem côdea, a escorrer manteiga. As melhores. Ele, desajeitado, queimou-se no bule. Deitou chá na chávena dela, na dele e no tampo da mesa. Sorriam enquanto o calor das chávenas lhes aquecia as mãos. Saíram, desatentos do mundo, sem esperarem pelo troco. Regressaram à chuva.

     Ele estendeu a mão para ela. Ela para ele. Olharam-se no fundo dos olhos. A chuva fria, agora, já não caía com tanta força. Podia-se dizer (se não fosse um disparate) que a chuva agora tinha clareiras.
     Abraçaram-se com faíscas nos olhos. Os lábios aproximaram-se. No céu acendeu-se um arco-íris.
Imagem daqui
  * publicado no Jornal do Centro, em 31 de Março de 2006

Comentários

  1. PENSO BAIXINHO PRÓS MEUS BOTÕES: EU SEMPRE DISSE K A XUVA É UM PROBLEMA...MAS NINGUÉM ME OUVE E ÓDEPOIS, PIMBA!-X

    DIGO, E VOU DIZER POUCO, POIS NUM QUERO K PERCAS MUITO TEMPO...QUERO K REGRESSES À XUVA!(pode ser k ela ainda lá esteja...)

    SOU: ANÓNIMA DEVIDAMENTE IDENTIFICADA!

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