Pssssst!!!!!*
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 17 de Abril de 2015
1. O dramaturgo Botho Strauss imaginou uma cena num restaurante cheio de pessoas, com muito bruáá de conversas e do tilintar de loiças e talheres, em que, de súbito, um indivíduo solta um vigoroso «pssssst!»
O restaurante pára, cai um silêncio, estacam as travessas nas mãos dos empregados, todos os olhares convergem para a criatura que, com o mesmo vigor, passados uns bons segundos, atira: «nada, não é nada!»
O restaurante aos poucos regressa à primeira forma. Risos meio esparvoados nas mesas, a rirem-se do homem, claro. Por breves segundos, ele conseguira organizar aquele caos, conseguira segundos mágicos focados nele.
Daniel Innerarity, logo no início de “O Novo Espaço Público”, um livro imprescindível para quem queira perceber estes tempos, explica que fazer hoje política é como fez o homem do restaurante — um conseguir a atenção à bruta.
Henrique Neto, Paulo Morais, Sampaio da Nóvoa, Paulo Freitas do Amaral e Cândido Ferreira acabam de chegar ao restaurante das presidenciais e disseram «pssssst!» Parámos para os ouvir, e eles: «nada, não é nada!». Já recomeçaram as conversas e os risos.
2. No início de Verão de 2011, logo a seguir à derrota socialista nas legislativas, contei esta história do homem do restaurante a uma sala presidida por António José Seguro e enchusmada de vips socráticos já metamorfoseados em vips seguristas sem o menor sobressalto de alma. Contei a história e soltei um «psssst!» vigoroso. A plateia, viciada em politiquês, arregalou os olhos de estranheza.
Já sabia que era em vão, mas, mesmo assim, a seguir dei as razões que aconselhavam a que o PS fizesse um balanço honesto do autoritarismo negocista socrático.
E acrescentei: «tenho saudades do engenheiro Guterres, do engenheiro Sócrates não tenho nenhumas.»
Guterres, como se acaba de saber, em matéria de saudades não “reciproca”.
Segue-se um presidente da república de direita mais dez anos.
1. O dramaturgo Botho Strauss imaginou uma cena num restaurante cheio de pessoas, com muito bruáá de conversas e do tilintar de loiças e talheres, em que, de súbito, um indivíduo solta um vigoroso «pssssst!»
O restaurante pára, cai um silêncio, estacam as travessas nas mãos dos empregados, todos os olhares convergem para a criatura que, com o mesmo vigor, passados uns bons segundos, atira: «nada, não é nada!»
O restaurante aos poucos regressa à primeira forma. Risos meio esparvoados nas mesas, a rirem-se do homem, claro. Por breves segundos, ele conseguira organizar aquele caos, conseguira segundos mágicos focados nele.
Daniel Innerarity, logo no início de “O Novo Espaço Público”, um livro imprescindível para quem queira perceber estes tempos, explica que fazer hoje política é como fez o homem do restaurante — um conseguir a atenção à bruta.
Henrique Neto, Paulo Morais, Sampaio da Nóvoa, Paulo Freitas do Amaral e Cândido Ferreira acabam de chegar ao restaurante das presidenciais e disseram «pssssst!» Parámos para os ouvir, e eles: «nada, não é nada!». Já recomeçaram as conversas e os risos.
2. No início de Verão de 2011, logo a seguir à derrota socialista nas legislativas, contei esta história do homem do restaurante a uma sala presidida por António José Seguro e enchusmada de vips socráticos já metamorfoseados em vips seguristas sem o menor sobressalto de alma. Contei a história e soltei um «psssst!» vigoroso. A plateia, viciada em politiquês, arregalou os olhos de estranheza.
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| Fotografia AFP achada aqui |
E acrescentei: «tenho saudades do engenheiro Guterres, do engenheiro Sócrates não tenho nenhumas.»
Guterres, como se acaba de saber, em matéria de saudades não “reciproca”.
Segue-se um presidente da república de direita mais dez anos.


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