Atenas não será vencida! — um texto de JB*

* Um comentário de JB ao post "Separar as águas" publicado ontem neste blogue e no Jornal do Centro



«Os gregos podem falhar, mas resistiram contra os tecnocratas que detestam a democracia».

«Deixem-se estar quietinhos porque as consequências serão terríveis. A realidade é muito forte e quem a contestar verá cair-lhe em cima toda a força dos poderosos.» – que atiram à cara dos que discordam a PDR (puta da realidade), Pacheco Pereira.

A crise da Europa é também a crise da esquerda, a crise da Internacional Socialista e daqueles dirigentes que, dizendo-se socialistas, estão a permitir esta vergonha.

Recordo o Discurso de Péricles aos Atenienses – poema de Manuel Alegre:


Deixai-os em treino permanente
Como se a vida fosse apenas exercício
Atenas ama o vinho e a poesia
E Esparta o sacrifício

Que nos acusem de vida fácil e leviandade
Que digam que não sabemos guardar segredo
Nem combater
Em Atenas reina a liberdade
E em Esparta o medo

A nossa força é a diferença

Não são precisas provações nem disciplina
Atenas vive como quer e como gosta
Porque a nossa coragem não se aprende não se ensina
A nossa é de nascença
E não imposta

Deixai-os pois dizer que vão vencer
Eles fogem da vida por temor da morte
Nós vamos para a morte por amor da vida
E enquanto Esparta só combate por dever
Nós iremos lutar com alegria

Por isso Atenas não será vencida

Conclusão:

1 - A mensagem que a UE está a passar é esta: o país que eleger um governo fora dos grupos PPE e Socialists & Democrats (S&D) leva com o cartão vermelho – rua!

2 - E isto não tem pés nem cabeça: Nem “sim” nem “não”. Comunistas apelam a gregos para anular boletim de voto.

3 - O PS votou contra os votos de solidariedade com a Grécia propostos por PCP e BE. Tomando devida nota.

4 - «Quem não é solidário com um vizinho que tem a casa em chamas não é só (também) um solidário de merda para com o mapa-mundi: é acima de tudo um estúpido que escolhe a causa do fogo, estando a sua casa ao lado» - António Gil

E ainda:

Condenar "repressão política em Angola"? Apenas o BE e um deputado do PS.

Voto de condenação pela "repressão em Angola" teve a oposição do PSD, PS, CDS, PCP e Partido Ecologista "Os Verdes" – DN on line

É por estas e por outras que estar ao lado de Albert Camus é sempre a LIBERDADE!

Mesmo a concluir:

Admiro a paciência de quem ainda se preocupa com a “democraticidade” do PS Viseu.

Até podem pôr o Rato Mickey na lista….!

Não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.


Mil vezes OXI! (Fotografia daqui)

Comentários

  1. JB, como não tomei posição fora das redes sociais sobre este referendo deixo aqui alguns argumentos, alguns repetidos na resposta que dei ao teu comentário ao "Separar das Águas", todos já enunciados no FB mas não em "fonte aberta" como é um blogue.


    1 — O povo grego que fale, que fale com liberdade

    2 — Se fosse grego votava "SIM" — nunca votaria ao lado dos nazis da Aurora Dourada e dos nacionalistas do Anel de Kammenos e do Syriza de Tsipras. Mas não sou grego.


    3 - Ao Pacheco Pereira, e ao seu "realismo mágico," prefiro isto de um filósofo de esquerda que hoje partilhei nas redes:

    "Não se deve opor à direita um sonho mas uma outra descrição da realidade que seja melhor.
    A batalha não se ganha com um apelo genérico a outro mundo mas na luta para descrever a realidade de outro modo.
    A esquerda não convence quando se situa como se estivesse zangada com a realidade como tal, mas quando é capaz de convencer-nos de que a direita faz uma má descrição da realidade."
    Daniel Innerarity, in O FUTURO E OS SEUS INIMIGOS

    A esquerda se lesse este livro não dizia tanta asneira acerca da dívida.

    Por isso está a ser varrida pelos eleitorados.

    4 - A minha opinião sobre este referendo é ainda mais pessimista do que a de Joaquim Vieira.
    Ele diz:
    Se ganhar o "Sim" — caos político.
    Se ganhar o "Não" — caos financeiro.

    Infelizmente, o caos político e financeiro é certo quer ganhe o "sim" quer ganhe o "não".

    5 - Espero só que se criem condições para, mais para a frente neste mês, abrirem os bancos sem haver mortes.

    6 - Defendo o terceiro resgate há meses, a Portugal cabem 2,5% da operação (números à volta de 50 mil milhões de euros), isso significa aumento de impostos em Portugal, pago-os solidário sem um queixume.

    7 - Sei que os "syrizicos" portugueses quando chegar o tempo de pôr a carteira solidária onde agora põem a boca, se vão calar que nem ratos sobre o que causa o aumento de impostos. E vão protestar danadamente. Não faz mal, pagam na mesma, porque, seja Costa seja PPC, a coisa terá que ser feita.

    Abraço

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  2. Alexandre,amigo:

    Li com muito interesse o teu texto. O artigo tem estrutura e conteúdo, na base de um apoiante do sim. Os teus argumentos obriga a pensar pois levantam questões (em que podes ter razão) e apresentas soluções (que eu não concordo).
    Eu penso que o teu texto deveria ter uma resposta grega: OXI!
    Eu penso que o teu texto vai ter uma resposta do povo grego: NAI!

    Num mundo normal, o referendo de hoje, seria considerado normal num processo democrático mesmo para quem não concorde com as opções. Mas, num mundo em que a educação política de muitos líderes (mesmo locais) se faz na base da equivalência-à-relvas ou do copy/paste-à-dijsselbloem isto é uma "radical" ameaça ao controlo das nações por areópagos gerontocráticos na sua mentalidade.

    Há um comentador do jornal Público que deveria ser sempre lido com atenção, de nome JORGE ALMEIDA FERNANDES. Pessoa culta, perspicaz e com visão global. Recomendo a leitura do artigo “Aprender com os erros do passado”, de 1 de Julho - http://www.publico.pt/mundo/noticia/aprender-com-os-erros-do-passado-1700647.
    Como refere o autor, na conclusão, é arriscado responder o que se vai passar após este domingo. Mas, o cidadão europeu “moderado” decide as eleições. São pessoas que não se batem por causas, e que pretendem sossego e bem-estar. Desejam sempre uma solução que seja a menos inquietante, traduzida numa forma muito simples de delegação da soberania. Naturalmente, não se antevê que qualquer destes partidos seja suicidário ao ponto de pôr em causa este equilíbrio.
    Boa parte das lideranças políticas que nos governa e governa na Europa não entende o que significa soberania e não quer entender o que significa negociação. Não tenho nenhuma ideia ingénua ou idealizada da situação grega, e os próprios têm evidentemente responsabilidade na situação que vivem. Curiosamente, os mais responsáveis internos são os que estão sempre ao lados dos credores e do diktat europeu. Também é sabido o papel que a banca internacional teve (tem?) no percurso grego e não só. No entanto, reconheça-se-lhes o direito de exercerem a soberania. Faz parte da dignidade, dos bens que se não podem hipotecar sem limites.

    E neste contexto, o discurso (recente) de Pacheco Pereira é paradigmático: «Os gregos podem falhar, mas resistiram contra os tecnocratas que detestam a democracia». Pacheco Pereira deu grande ênfase ao papel da soberania e da sua progressiva perda. Merkel afirmou em tempos que os países do euro devem estar preparados para ceder soberania pois "Temos de estar preparados para aceitar que a Europa (o diktat alemão) tem a palavra final em certas áreas". Miguel Beleza tem razão quando afirmou há tempos que a soberania é uma treta. Também é verdade que a feitoria (PORTUGAL, HOJE) é uma tragédia.
    A “insatisfação”, a "desilusão" e "descrença" com a democracia, parece-me na verdade algo de preocupante, instalando de mansinho um caldo de cultura favorável à emergência de derivas de natureza não democrática de contornos populistas e demagógicos, produtos altamente perigosos e inflamáveis. Marinho Pinto que o mostre.

    O Medo, a instabilidade, a pressão, a chantagem criada junto da população grega em que todos anseiam pela derrota do governo grego e do Syriza no referendo do domingo. Os seus grandes aliados estão à direita, não à esquerda. A Internacional Socialista é hoje uma mera sucursal mais doce (e mais dócil...) do neoliberalismo, ou seja, da ditadura financeira de fachada democrática que impõe políticas de austeridade indiferente aos sacrifícios de milhões de europeus. Os socialistas líderes europeus envergonham e Costa com a «reidentificação à esquerda», a construção de uma vaga de mobilização no PS, um discurso rejuvenescido, falha todos os dias.
    Veremos como serão interpretados os resultados do referendo grego na Europa, pois Bruxelas “adora” referendos e “adora” a democracia também, evidentemente!
    Nada será como dantes: ATÉ À DESTRUIÇÃO FINAL!

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