Uma sumptuosa morada
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I
(Cor de floresta virgem, aroma raiado de embriaguez de asa.)
A noite está na concha da mão. (E também no brilho dos olhos.)
Limites do universo: cada um é germe de infinito.
(Deitada, ela escutava, num ruído de água que se quebra, por cima do seu leito, a onda desenrolando as suas correntes e lançando sobre a praia os sóis decaídos da liberdade ofendida.)
Ao respirar fazemos sombra.
(Em menina, transtornavam-na as manhãs sem mãos, no meio da roda, com a sua imperícia de aleijadas.
Da terra, lembrar-se-á do riso do arco esbaforido, oscilando no caminho, e do suspiro das cortinas poeirentas que erguia até à aurora?)
A pouco e pouco as paredes afrouxam o seu abraço, porque não há amor eterno entre as pedras. Uma a uma redescobriram, nas ruínas, o anonimato do seu destino.
II
III
Avancei mais do que me permitiam as pupilas. (Lá onde a obscuridade se torna em degraus gratuitos, vertigem roubada à vigilância.)
A idade da transparência habita a memória dos homens. As guerras contribuem para o seu prestígio.
O teu cabelo é o halo alongado do meu desespero. (Será o teu rosto o astro de que a manhã nasceu?)
As mãos trepavam, selvagens, até à boca do abismo de que ninguém suspeita ao passar, distraído pelas dobras ondulantes das horas iluminadas que estriam o céu.
IV
(Há que admitir a nossa ausência do mundo, a nossa confortável segurança perante as marionetas inspiradas com que as crianças sonham. Há que admitir a nossa irrealidade que respeita as deambulações dessas criaturas incómodas.)
V
Encontrei-te no caminho imaculado que leva para além dos cumes.
Sabíamos nós, no topo das nossas forças, que devíamos deixar-nos cair, dolorosos diamantes, na água regeneradora?
VI
A chuva martela o ventre redondo do amor.
(A tempestade é cheia de censuras.)
De pé, bem seguro nas pernas, o homem desafia o raio.
Entre o dedo do pé e o indicador erguido, o sol ensina a ver.
Edmond Jabès
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