Política dita no Jornal do Centro em 2014 *
* Uma tesouradíssima ** "antologia" dos Olhos de Gato publicados no Jornal de Centro este ano (clicar na data caso queira ler a crónica completa)
[9/Jan] Não é anedota: neste país falido, a assembleia municipal de Viseu aprovou mesmo por unanimidade uma moção a pedir uma ligação ao sul em via com “perfil de auto-estrada” e sem portagens.
[14/Mar] Seguro está obrigado a, no mínimo, deixar a direita a 5% de votos e a eleger mais deputados que a “Aliança Portugal”. Caso contrário, ou António Costa toma conta do assunto, ou Pedro Passos Coelho ganha as próximas legislativas.
[25/Abril] PS, PSD e CDS, os “partidos do arco da corrupção”, acabam de chumbar no parlamento uma proposta para acabar com deputados na folha de pagamentos dos lobbies. Estamos assim. Quarenta anos depois do 25 de Abril.
[20/Jun] Nos seus bons tempos, o sr. Salgado metia no bolso primeiros-ministros, como foi o caso de Barroso e Sócrates. Nos seus bons tempos, ele era tu-cá-tu-lá com a cleptocracia angolana, embora, nesse caso, não se saiba ainda quem é que metia a mão no bolso de quem. Uma coisa se sabe: o bolso estava furado.
[18/Jul] Não se põe um evento com o impacto dos Jardins Efémeros, que não depende da bilheteira, a concorrer com o Tom de Festa que precisa da receita da bilheteira. (…) António Almeida Henriques enche a boca com o slogan "Viseu, cidade-região" para quê? Para secar a região à volta?
[12/Set] No final de Maio, António Borges roeu a corda a António Costa, para espanto deste, e meteu-se num beco sem saída chamado Seguro; como vai fazer o agora líder distrital do PS para que (...) Viseu deixe de ser “um distrito peso pluma no contexto nacional”?
[19/Set] Na nossa terceira república, a selecção dos líderes a submeter a votos pelas várias agremiações partidárias tem sido feita em "petit-comité", em sótãos conspiratórios e missas maçónicas.
[14/Nov] Os eleitorados do sul estão a fugir para partidos novos que, pelo menos, ainda não estão sujos pela corrupção. Para o ano, o PAN e o PDR de Marinho e Pinto devem entrar no parlamento. E se José Gomes Ferreira for a votos, como acaba de “ameaçar”, as coisas levarão mesmo uma grande volta.
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** A primeira leitura de todos os Olhos de Gato de 2014, antes da "tesouração" para caber, resultou nesta "enormidade":
9/1
Não é anedota: neste país falido, a assembleia municipal de Viseu aprovou mesmo por unanimidade uma moção a pedir uma ligação ao sul em via com “perfil de auto-estrada” e sem portagens.
Atenção!: não se trata de uma auto-estrada, trata-se de um “perfil de auto-estrada”.
16/1
Como explicou Baudelaire, a memória é um palimpsesto, a memória é um pergaminho que se vai apagando para tornar a escrever por cima. Sem darmos conta “alteramos a história de cada vez que voltamos a recordá-la”, lembra Nassim Nicholas Taleb em “O Cisne Negro”.
14/2
Qualquer viseense, mesmo que muito distraído, sabe que o Auditório Mirita Casimiro é uma sala sem vida que está, há anos, a coleccionar teias de aranha na Rua Alexandre Lobo. (…) [e] vai continuar cheio de teias de aranha.”
21/2
A cidadania pós-materialista liga menos às querelas esquerda/direita e às questões económicas e mais às questões de identidade, dos estilos de vida e da liberdade enquanto ferramenta da felicidade individual.
28/2
Eis as três condições para a felicidade, segundo Slavoj Žižek: (i) terem-se bens materiais básicos disponíveis mas não em excesso; (ii) ter-se algo em que sonhar não completamente inacessível; (iii) ter alguém a quem imputar tudo o que corre mal.
Repare-se: temos todas as condições para sermos felizes. Até temos o “alguém” culpado de todos os nossos males. Chama-se Angela Merkel.
7/3
Senhores políticos locais, parem com a laracha do “perfil de auto-estrada” sem portagens e não deixem tocar no IP3, a não ser para uma requalificação decente que poupe vidas.
14/3
Seguro está obrigado a, no mínimo, deixar a direita a 5% de votos e a eleger mais deputados que a “Aliança Portugal”.
Caso contrário, ou António Costa toma conta do assunto, ou Pedro Passos Coelho ganha as próximas legislativas.
21/3
No Olho de Gato sempre se usou e vai continuar a usar-se o método de Norberto Bobbio: devemos escolher uma parte, depois dessa escolha feita, há que exercer o juízo crítico com severidade, especialmente com a nossa parte.
Um ou outro aparelhista partidário mais encardido e instalado não gosta. Azar o dele.
---
Duas câmaras, as de Sernancelhe e Tabuaço, são completamente machas, nem uma vereadora têm. Na câmara de Castro Daire há quatro socialistas de voz grossa — desapareceu, pelo menos, uma vereadora socialista eleita.
Como se vê, a lei dita da “paridade”, afinal, ainda não pariu paridade nenhuma.
11/4
Medeiros Ferreira, com o seu sentido de humor inigualável, chamou a esta nossa especialidade: “drenagem atípica de rendas exógenas”.Nisto somos bons e há muito tempo. Esta experiência acumulada tem agora um novo campo de aplicação: a venda de vistos dourados a milionários chineses.
E as coisas podem não ficar por aqui: a tríade que manda — formada pela advocacia de negócios, pela banca e pela alta burocracia partidária — ainda se vira para o mercado dos milionários russos e faz um rombo na mais proveitosa “indústria” do Chipre.
18/4
Por sua vez, em Portugal, mudam os regimes mas não muda o espírito predador e corrupto das nossas elites: africanista antes de 1974 nos monopólios coloniais, europeísta agora a “executar” (isto é, “matar”) fundos comunitários.
25/4
PS, PSD e CDS, os “partidos do arco da corrupção”, acabam de chumbar no parlamento uma proposta para acabar com deputados na folha de pagamentos doslobbies.
Estamos assim. Quarenta anos depois do 25 de Abril.
2/5
Entendamo-nos: a nova estátua de Viseu não é um caso de "o rei vai nu!". Ela é o contrário disso: em vez de termos um rei sem “roupa”, o que temos é “roupa” sem rei dentro. Aquela armadura envolve o nada, aquele elmo não protege nenhuma cabeça, protege o vazio. Ou, usando uma bem-humorada analogia de um amigo: o que temos ali é uma espécie de "Homem Invisível" que no filme, para ser visto, tinha de estar de fato, de luvas e de chapéu.
Eu gosto desta “não representação” do nosso primeiro rei. Gosto daqueles signos sem nada dentro — da armadura na forma de Portugal sem os Algarves, do escudo, da longa espada, do elmo. Gosto, até, do kitsch daquele coração.
Aquele “nada dentro” é a melhor maneira de se representar a incerteza histórica: D. Tareja no dia 5 de Agosto de 1109, data de nascimento de Afonso, estava mesmo em Viseu?
9/5
Como diz Tony Judt, quando o pensamento não vê mais nada que a economia, fica como um hamster dentro de uma roda giratória.
Mexe-se muito, mas não sai do sítio.
Nestes quatro anos de degradação democrática na Hungria, que fez a “Europa” do "hamster" Barroso?
16/5
Os nossos dois primeiros resgates foram em 1977 (1% do PIB ) e em 1983 (2,8% do PIB). Ambos os empréstimos estão pagos, diz a página oficial do FMI. O país não se sabe governar mas lá vai mantendo o cadastro limpo como pagador.
Agora, a bancarrota socrática foi de 78 mil milhões de euros. Uma enormidade: 45,5% do PIB (!). Apesar de tudo, estes últimos desgraçados anos parecem não ter tido consequências tão más como as do biénio 1983/84. Há trinta anos o pior foi a inflação, desta vez é o desemprego. Mas parece que agora o "estado social" consegue, apesar de tudo, dar melhor resposta.
23/5
É que o Erasmus é bom, o espaço Schengen um descanso, o roaming agora é barato. Mas, e quem não se pode deslocar?
Mas, e as decisões tomadas nas costas do eleitorado? E o autocrata Orbán à solta na Hungria? E o desempoderamento dos jovens? E a imigração? E a incompatibilidade crescente entre as duas “Europas”, a da eurozona e a do eurocepticismo britânico? E a subtracção do poder orçamental aos parlamentos nacionais do euro?
30/5
Portugal precisa de um primeiro-ministro capaz de fazer o que Pedro Passos Coelho não foi capaz: extinguir mesmo as redundâncias do estado, acabar com o sufoco e a ditadura fiscal, ter contas sãs que evitem a quarta bancarrota.
António José Seguro é bom homem mas, como se viu no domingo, não consegue mobilizar as pessoas para esse “suor e lágrimas” necessário. Os portugueses estão agora a olhar para António Costa.
20/6
Nos seus bons tempos, o sr. Salgado metia no bolso primeiros-ministros, como foi o caso de Barroso e Sócrates. Nos seus bons tempos, ele era tu-cá-tu-lá com a cleptocracia angolana, embora, nesse caso, não se saiba ainda quem é que metia a mão no bolso de quem. Uma coisa se sabe: o bolso estava furado.
27/6
Como se sabe, sem uma alternativa confiável "ao que está", as pessoas não mudam. Faulkner explica isso em "Palmeiras Bravas": entre o nada e a dor, as pessoas escolhem a dor. Entre Seguro e Passos Coelho as pessoas escolherão o segundo.
O mesmo acontecerá com António Costa se ele se ficar pela conversa "hollandista" de menos impostos e mais despesa. É que a classe média, ou o que resta dela depois destes desgraçados anos, percebeu que, quando há falência do estado, é ela, classe média, que é levada à ruína.
11/7
as camionetas de gente com que António Borges emoldurou o comício de Seguro em S. Pedro do Sul mostraram, acima de tudo, o músculo mobilizador do ex-presidente da câmara de Resende; prenunciam um chapéu cheiinho de votos em Seguro naquele simpático concelho duriense; mais nada do que isso
18/7
não se põe um evento com o impacto dos Jardins Efémeros, que não depende da bilheteira, a concorrer com o Tom de Festa que precisa da receita da bilheteira.
Mas o pior é político: AAH enche a boca com o slogan "Viseu, cidade-região" para quê? Para secar a região à volta?
25/7
Quem é, de facto, o "dono" dos Centros Escolares de Santa Comba Dão feitos em PPPs? Quem é o verdadeiro "dono" da A25?
Cada vez haverá mais formas imateriais de propriedade a viverem de rendas. E importa não esquecer o imaterial mais decisivo na economia do conhecimento: as ideias, as patentes, os direitos de autor.
-------
António José Seguro, não contente com a confusão das primárias, marcou, também para Setembro, eleições para líderes distritais do PS.
O homem só é diferente do comandante do Titanic porque quer mesmo bater num iceberg.
1/8
se o PS apresentar em Viseu acartadores das malas dos chefes, sem pensamento próprio nem vida fora da política, tem um dissabor nas urnas. Em 2015, pode dizer adeus ao terceiro deputado.
5/9
As câmaras do distrito com a corda mais apertada à volta do pescoço são as de Santa Comba Dão (248% de endividamento) e Lamego (205%).
Agora todos os dias se ouvem municípios não (tão) endividados a carpirem-se por estarem a ser transformados na Alemanha das câmaras falidas. Uma coisa é certa: alguém tem de cortar aquela corda à volta do pescoço de Santa Comba Dão e de Lamego.
12/9
No final de Maio, António Borges roeu a corda a António Costa, para espanto deste, e meteu-se num beco sem saída chamado Seguro; como vai fazer o agora líder distrital do PS para que — e repito uma expressão da tal carta aberta — Viseu deixe de ser "um distrito peso pluma no contexto nacional"?
19/9
Na nossa terceira república, a selecção dos líderes a submeter a votos pelas várias agremiações partidárias tem sido feita em "petit-comité", em sótãos conspiratórios e missas maçónicas. Só depois de decidido o essencial, é que as coisas são formalizadas, de cima para baixo, nos órgãos estatutários dos partidos.
26/9
A urbanização difusa das últimas décadas fez crescer os subúrbios, multiplicando bairros à volta das cidades, que, estranhamente, continuam ausentes do discurso e das preocupações dos decisores locais e da comunicação social.
Procuremos exemplos disso no concelho de Viseu: não têm conta as proclamações, opiniões, movimentações, planos, para o quase desabitado Bairro da Cadeia, que toda a gente parece querer transformar numa espécie de Portugal dos Pequenitos.
Já quanto aos bairros de Rio de Loba ou de Abraveses, onde vivem milhares e milhares de pessoas a precisarem de melhor qualidade de vida, não há nada. Ninguém quer saber. Estão fora do octógono da propaganda municipal.
3/10
Já o PSD e o CDS, depois de meses a torcerem por Seguro, fazem agora contas de cabeça. A vitória que tinham como certa nas legislativas em 2015 é ainda possível mas é mais difícil. Têm, claro, um trunfo forte: repetir até à exaustão a fórmula «Costa = Sócrates = bancarrota».
10/10
Ora, não há nada debaixo dos céus que seja sempre bom, que seja sempre mau. Até Sísifo pode fazer uma pausa boa enquanto a pedra rola monte abaixo.
Ora, Sísifo, que com tanto sofrimento só pode ser português, depois da bancarrota de 2011 tem estado a acartar às costas o pesado calhau da austeridade monte acima.
Ora, pelo que se tem ouvido, no próximo eleiçoeiro ano, Sísifo vai poder folgar as costas. Tal qual como no suave ano de 2009, o calhau vai rolar cheio de facilidades monte abaixo.
17/10
O que a nossa esquerda diz da globalização é centrado no umbigo do ocidente. Os chineses e os indianos têm tanto direito a ter um carro como o professor "alter-mundialista" Boaventura Sousa Santos.
14/11
São retóricas muito úteis para os políticos irem construindo "inimigos". Como se sabe, quanto mais fraco é um político, mais ele precisa de “inimigos”.
----
Os eleitorados do sul estão a fugir para partidos novos que, pelo menos, ainda não estão sujos pela corrupção.
Para o ano, o PAN e o PDR de Marinho e Pinto devem entrar no parlamento. E se José Gomes Ferreira for a votos, como acaba de “ameaçar”, as coisas levarão mesmo uma grande volta.
19/12
Juízos sobre o que aconteceu ao Portugal do sr. Salgado e dos seus dois mordomos políticos, o sr. Barroso e o sr. Sócrates, ficam por conta e risco do leitor.
Fotografia Olho de Gato |
[14/Mar] Seguro está obrigado a, no mínimo, deixar a direita a 5% de votos e a eleger mais deputados que a “Aliança Portugal”. Caso contrário, ou António Costa toma conta do assunto, ou Pedro Passos Coelho ganha as próximas legislativas.
[25/Abril] PS, PSD e CDS, os “partidos do arco da corrupção”, acabam de chumbar no parlamento uma proposta para acabar com deputados na folha de pagamentos dos lobbies. Estamos assim. Quarenta anos depois do 25 de Abril.
[20/Jun] Nos seus bons tempos, o sr. Salgado metia no bolso primeiros-ministros, como foi o caso de Barroso e Sócrates. Nos seus bons tempos, ele era tu-cá-tu-lá com a cleptocracia angolana, embora, nesse caso, não se saiba ainda quem é que metia a mão no bolso de quem. Uma coisa se sabe: o bolso estava furado.
[18/Jul] Não se põe um evento com o impacto dos Jardins Efémeros, que não depende da bilheteira, a concorrer com o Tom de Festa que precisa da receita da bilheteira. (…) António Almeida Henriques enche a boca com o slogan "Viseu, cidade-região" para quê? Para secar a região à volta?
[12/Set] No final de Maio, António Borges roeu a corda a António Costa, para espanto deste, e meteu-se num beco sem saída chamado Seguro; como vai fazer o agora líder distrital do PS para que (...) Viseu deixe de ser “um distrito peso pluma no contexto nacional”?
[19/Set] Na nossa terceira república, a selecção dos líderes a submeter a votos pelas várias agremiações partidárias tem sido feita em "petit-comité", em sótãos conspiratórios e missas maçónicas.
[14/Nov] Os eleitorados do sul estão a fugir para partidos novos que, pelo menos, ainda não estão sujos pela corrupção. Para o ano, o PAN e o PDR de Marinho e Pinto devem entrar no parlamento. E se José Gomes Ferreira for a votos, como acaba de “ameaçar”, as coisas levarão mesmo uma grande volta.
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** A primeira leitura de todos os Olhos de Gato de 2014, antes da "tesouração" para caber, resultou nesta "enormidade":
9/1
Não é anedota: neste país falido, a assembleia municipal de Viseu aprovou mesmo por unanimidade uma moção a pedir uma ligação ao sul em via com “perfil de auto-estrada” e sem portagens.
Atenção!: não se trata de uma auto-estrada, trata-se de um “perfil de auto-estrada”.
16/1
Como explicou Baudelaire, a memória é um palimpsesto, a memória é um pergaminho que se vai apagando para tornar a escrever por cima. Sem darmos conta “alteramos a história de cada vez que voltamos a recordá-la”, lembra Nassim Nicholas Taleb em “O Cisne Negro”.
14/2
Qualquer viseense, mesmo que muito distraído, sabe que o Auditório Mirita Casimiro é uma sala sem vida que está, há anos, a coleccionar teias de aranha na Rua Alexandre Lobo. (…) [e] vai continuar cheio de teias de aranha.”
21/2
A cidadania pós-materialista liga menos às querelas esquerda/direita e às questões económicas e mais às questões de identidade, dos estilos de vida e da liberdade enquanto ferramenta da felicidade individual.
28/2
Eis as três condições para a felicidade, segundo Slavoj Žižek: (i) terem-se bens materiais básicos disponíveis mas não em excesso; (ii) ter-se algo em que sonhar não completamente inacessível; (iii) ter alguém a quem imputar tudo o que corre mal.
Repare-se: temos todas as condições para sermos felizes. Até temos o “alguém” culpado de todos os nossos males. Chama-se Angela Merkel.
7/3
Senhores políticos locais, parem com a laracha do “perfil de auto-estrada” sem portagens e não deixem tocar no IP3, a não ser para uma requalificação decente que poupe vidas.
14/3
Seguro está obrigado a, no mínimo, deixar a direita a 5% de votos e a eleger mais deputados que a “Aliança Portugal”.
Caso contrário, ou António Costa toma conta do assunto, ou Pedro Passos Coelho ganha as próximas legislativas.
21/3
No Olho de Gato sempre se usou e vai continuar a usar-se o método de Norberto Bobbio: devemos escolher uma parte, depois dessa escolha feita, há que exercer o juízo crítico com severidade, especialmente com a nossa parte.
Um ou outro aparelhista partidário mais encardido e instalado não gosta. Azar o dele.
---
Duas câmaras, as de Sernancelhe e Tabuaço, são completamente machas, nem uma vereadora têm. Na câmara de Castro Daire há quatro socialistas de voz grossa — desapareceu, pelo menos, uma vereadora socialista eleita.
Como se vê, a lei dita da “paridade”, afinal, ainda não pariu paridade nenhuma.
11/4
Medeiros Ferreira, com o seu sentido de humor inigualável, chamou a esta nossa especialidade: “drenagem atípica de rendas exógenas”.Nisto somos bons e há muito tempo. Esta experiência acumulada tem agora um novo campo de aplicação: a venda de vistos dourados a milionários chineses.
E as coisas podem não ficar por aqui: a tríade que manda — formada pela advocacia de negócios, pela banca e pela alta burocracia partidária — ainda se vira para o mercado dos milionários russos e faz um rombo na mais proveitosa “indústria” do Chipre.
18/4
Por sua vez, em Portugal, mudam os regimes mas não muda o espírito predador e corrupto das nossas elites: africanista antes de 1974 nos monopólios coloniais, europeísta agora a “executar” (isto é, “matar”) fundos comunitários.
25/4
PS, PSD e CDS, os “partidos do arco da corrupção”, acabam de chumbar no parlamento uma proposta para acabar com deputados na folha de pagamentos doslobbies.
Estamos assim. Quarenta anos depois do 25 de Abril.
2/5
Entendamo-nos: a nova estátua de Viseu não é um caso de "o rei vai nu!". Ela é o contrário disso: em vez de termos um rei sem “roupa”, o que temos é “roupa” sem rei dentro. Aquela armadura envolve o nada, aquele elmo não protege nenhuma cabeça, protege o vazio. Ou, usando uma bem-humorada analogia de um amigo: o que temos ali é uma espécie de "Homem Invisível" que no filme, para ser visto, tinha de estar de fato, de luvas e de chapéu.
Eu gosto desta “não representação” do nosso primeiro rei. Gosto daqueles signos sem nada dentro — da armadura na forma de Portugal sem os Algarves, do escudo, da longa espada, do elmo. Gosto, até, do kitsch daquele coração.
Aquele “nada dentro” é a melhor maneira de se representar a incerteza histórica: D. Tareja no dia 5 de Agosto de 1109, data de nascimento de Afonso, estava mesmo em Viseu?
9/5
Como diz Tony Judt, quando o pensamento não vê mais nada que a economia, fica como um hamster dentro de uma roda giratória.
Mexe-se muito, mas não sai do sítio.
Nestes quatro anos de degradação democrática na Hungria, que fez a “Europa” do "hamster" Barroso?
16/5
Os nossos dois primeiros resgates foram em 1977 (1% do PIB ) e em 1983 (2,8% do PIB). Ambos os empréstimos estão pagos, diz a página oficial do FMI. O país não se sabe governar mas lá vai mantendo o cadastro limpo como pagador.
Agora, a bancarrota socrática foi de 78 mil milhões de euros. Uma enormidade: 45,5% do PIB (!). Apesar de tudo, estes últimos desgraçados anos parecem não ter tido consequências tão más como as do biénio 1983/84. Há trinta anos o pior foi a inflação, desta vez é o desemprego. Mas parece que agora o "estado social" consegue, apesar de tudo, dar melhor resposta.
23/5
É que o Erasmus é bom, o espaço Schengen um descanso, o roaming agora é barato. Mas, e quem não se pode deslocar?
Mas, e as decisões tomadas nas costas do eleitorado? E o autocrata Orbán à solta na Hungria? E o desempoderamento dos jovens? E a imigração? E a incompatibilidade crescente entre as duas “Europas”, a da eurozona e a do eurocepticismo britânico? E a subtracção do poder orçamental aos parlamentos nacionais do euro?
30/5
Portugal precisa de um primeiro-ministro capaz de fazer o que Pedro Passos Coelho não foi capaz: extinguir mesmo as redundâncias do estado, acabar com o sufoco e a ditadura fiscal, ter contas sãs que evitem a quarta bancarrota.
António José Seguro é bom homem mas, como se viu no domingo, não consegue mobilizar as pessoas para esse “suor e lágrimas” necessário. Os portugueses estão agora a olhar para António Costa.
20/6
Nos seus bons tempos, o sr. Salgado metia no bolso primeiros-ministros, como foi o caso de Barroso e Sócrates. Nos seus bons tempos, ele era tu-cá-tu-lá com a cleptocracia angolana, embora, nesse caso, não se saiba ainda quem é que metia a mão no bolso de quem. Uma coisa se sabe: o bolso estava furado.
27/6
Como se sabe, sem uma alternativa confiável "ao que está", as pessoas não mudam. Faulkner explica isso em "Palmeiras Bravas": entre o nada e a dor, as pessoas escolhem a dor. Entre Seguro e Passos Coelho as pessoas escolherão o segundo.
O mesmo acontecerá com António Costa se ele se ficar pela conversa "hollandista" de menos impostos e mais despesa. É que a classe média, ou o que resta dela depois destes desgraçados anos, percebeu que, quando há falência do estado, é ela, classe média, que é levada à ruína.
11/7
as camionetas de gente com que António Borges emoldurou o comício de Seguro em S. Pedro do Sul mostraram, acima de tudo, o músculo mobilizador do ex-presidente da câmara de Resende; prenunciam um chapéu cheiinho de votos em Seguro naquele simpático concelho duriense; mais nada do que isso
18/7
não se põe um evento com o impacto dos Jardins Efémeros, que não depende da bilheteira, a concorrer com o Tom de Festa que precisa da receita da bilheteira.
Mas o pior é político: AAH enche a boca com o slogan "Viseu, cidade-região" para quê? Para secar a região à volta?
25/7
Quem é, de facto, o "dono" dos Centros Escolares de Santa Comba Dão feitos em PPPs? Quem é o verdadeiro "dono" da A25?
Cada vez haverá mais formas imateriais de propriedade a viverem de rendas. E importa não esquecer o imaterial mais decisivo na economia do conhecimento: as ideias, as patentes, os direitos de autor.
-------
António José Seguro, não contente com a confusão das primárias, marcou, também para Setembro, eleições para líderes distritais do PS.
O homem só é diferente do comandante do Titanic porque quer mesmo bater num iceberg.
1/8
se o PS apresentar em Viseu acartadores das malas dos chefes, sem pensamento próprio nem vida fora da política, tem um dissabor nas urnas. Em 2015, pode dizer adeus ao terceiro deputado.
5/9
As câmaras do distrito com a corda mais apertada à volta do pescoço são as de Santa Comba Dão (248% de endividamento) e Lamego (205%).
Agora todos os dias se ouvem municípios não (tão) endividados a carpirem-se por estarem a ser transformados na Alemanha das câmaras falidas. Uma coisa é certa: alguém tem de cortar aquela corda à volta do pescoço de Santa Comba Dão e de Lamego.
12/9
No final de Maio, António Borges roeu a corda a António Costa, para espanto deste, e meteu-se num beco sem saída chamado Seguro; como vai fazer o agora líder distrital do PS para que — e repito uma expressão da tal carta aberta — Viseu deixe de ser "um distrito peso pluma no contexto nacional"?
19/9
Na nossa terceira república, a selecção dos líderes a submeter a votos pelas várias agremiações partidárias tem sido feita em "petit-comité", em sótãos conspiratórios e missas maçónicas. Só depois de decidido o essencial, é que as coisas são formalizadas, de cima para baixo, nos órgãos estatutários dos partidos.
26/9
A urbanização difusa das últimas décadas fez crescer os subúrbios, multiplicando bairros à volta das cidades, que, estranhamente, continuam ausentes do discurso e das preocupações dos decisores locais e da comunicação social.
Procuremos exemplos disso no concelho de Viseu: não têm conta as proclamações, opiniões, movimentações, planos, para o quase desabitado Bairro da Cadeia, que toda a gente parece querer transformar numa espécie de Portugal dos Pequenitos.
Já quanto aos bairros de Rio de Loba ou de Abraveses, onde vivem milhares e milhares de pessoas a precisarem de melhor qualidade de vida, não há nada. Ninguém quer saber. Estão fora do octógono da propaganda municipal.
3/10
Já o PSD e o CDS, depois de meses a torcerem por Seguro, fazem agora contas de cabeça. A vitória que tinham como certa nas legislativas em 2015 é ainda possível mas é mais difícil. Têm, claro, um trunfo forte: repetir até à exaustão a fórmula «Costa = Sócrates = bancarrota».
10/10
Ora, não há nada debaixo dos céus que seja sempre bom, que seja sempre mau. Até Sísifo pode fazer uma pausa boa enquanto a pedra rola monte abaixo.
Ora, Sísifo, que com tanto sofrimento só pode ser português, depois da bancarrota de 2011 tem estado a acartar às costas o pesado calhau da austeridade monte acima.
Ora, pelo que se tem ouvido, no próximo eleiçoeiro ano, Sísifo vai poder folgar as costas. Tal qual como no suave ano de 2009, o calhau vai rolar cheio de facilidades monte abaixo.
17/10
O que a nossa esquerda diz da globalização é centrado no umbigo do ocidente. Os chineses e os indianos têm tanto direito a ter um carro como o professor "alter-mundialista" Boaventura Sousa Santos.
14/11
São retóricas muito úteis para os políticos irem construindo "inimigos". Como se sabe, quanto mais fraco é um político, mais ele precisa de “inimigos”.
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Os eleitorados do sul estão a fugir para partidos novos que, pelo menos, ainda não estão sujos pela corrupção.
Para o ano, o PAN e o PDR de Marinho e Pinto devem entrar no parlamento. E se José Gomes Ferreira for a votos, como acaba de “ameaçar”, as coisas levarão mesmo uma grande volta.
19/12
Juízos sobre o que aconteceu ao Portugal do sr. Salgado e dos seus dois mordomos políticos, o sr. Barroso e o sr. Sócrates, ficam por conta e risco do leitor.
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