Força *
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 17 de Dezembro de 2004
1. Fui ver Twister, uma peça de teatro com texto e direcção de Jorge Fraga. O espectáculo foi em Torredeita, na Metalúrgica Ministros. Quando as pessoas compravam o bilhete recebiam, ao mesmo tempo, um cobertor para aguentarem os zero graus da “sala”. O frio não assustou dezenas e dezenas de felizardos que lotaram completamente o espaço.
Jorge Fraga continua a debruçar-se sobre os seus temas preferidos: o “homem lobo do homem” e o destino. Destino marcado pelos dados a rolar no chão de cimento ou pela leitura de sina na planta dos pés. Jorge Fraga continua em boa forma; André Cardoso e Zé Pedro Ramos, as duas vozes e os dois corpos deste carrossel, são nomes a seguir com atenção.
Saí com os pés e as mãos quentes de debaixo do cobertor, neste espectáculo cujo dispositivo de cumplicidade entre o “palco” e o público fica como uma das minhas experiências culturais mais singulares de 2004. Em Torredeita. Numa oficina.
2. José Barroso deu o poder dinasticamente a Pedro Santana Lopes. Em democracia o poder conquista-se através dos votos; não se herda nem se dá de herança. Não era preciso ser nenhuma águia para perceber que a coisa ia correr mal. Tivemos quatro meses e treze dias de circo, com um primeiro-ministro patético, atofegado pelos seus, numa incubadora. Foi ele próprio que o afirmou.
Depois da obscena demonstração da sua incompetência, Pedro Santana Lopes quer-nos agora convencer que é um Calimero, injustiçado por imaginárias centrais de intoxicação e por conspiradores avulsos dirigidos a partir de Boliqueime. E o mais extraordinário é que o aparelho do PSD parece que vai engolir, sem pestanejar, este isco estragado e este anzol tosco.
Como sempre, “um rei fraco faz fraca a forte gente.”
3. Estamos agora ainda em mais apuros que estávamos em Julho. Não podemos embarcar em discursos da tanga. Não devemos dar crédito aos cínicos, por mais inteligentes que nos pareçam. Chega de negrume. Basta de desdém.
Imponhamos uma dieta às nossas elites que engordam com os dinheiros europeus e nem se dão à decência de pagar impostos. Já chega de festim. Queiramos políticos que não se ajoelhem perante as corporações e os interesses.
Achemos força juntos. Queiramos clareza e carácter nos nossos líderes. Que sejam gente sem medo de perder porque só assim merecem ganhar. E nós com eles.
Digam-nos que os tempos que vêm são difíceis, porque é a verdade. Mas não se esqueçam de nos dizer que temos futuro. Que merecemos esperança. Que temos força.
E se não souberem dizê-lo, ponham, ao menos, a música dos Da Weasel a tocar nos comícios:
Fraga Fotografia de João Manuel Barros |
Jorge Fraga continua a debruçar-se sobre os seus temas preferidos: o “homem lobo do homem” e o destino. Destino marcado pelos dados a rolar no chão de cimento ou pela leitura de sina na planta dos pés. Jorge Fraga continua em boa forma; André Cardoso e Zé Pedro Ramos, as duas vozes e os dois corpos deste carrossel, são nomes a seguir com atenção.
Saí com os pés e as mãos quentes de debaixo do cobertor, neste espectáculo cujo dispositivo de cumplicidade entre o “palco” e o público fica como uma das minhas experiências culturais mais singulares de 2004. Em Torredeita. Numa oficina.
2. José Barroso deu o poder dinasticamente a Pedro Santana Lopes. Em democracia o poder conquista-se através dos votos; não se herda nem se dá de herança. Não era preciso ser nenhuma águia para perceber que a coisa ia correr mal. Tivemos quatro meses e treze dias de circo, com um primeiro-ministro patético, atofegado pelos seus, numa incubadora. Foi ele próprio que o afirmou.
Depois da obscena demonstração da sua incompetência, Pedro Santana Lopes quer-nos agora convencer que é um Calimero, injustiçado por imaginárias centrais de intoxicação e por conspiradores avulsos dirigidos a partir de Boliqueime. E o mais extraordinário é que o aparelho do PSD parece que vai engolir, sem pestanejar, este isco estragado e este anzol tosco.
Como sempre, “um rei fraco faz fraca a forte gente.”
3. Estamos agora ainda em mais apuros que estávamos em Julho. Não podemos embarcar em discursos da tanga. Não devemos dar crédito aos cínicos, por mais inteligentes que nos pareçam. Chega de negrume. Basta de desdém.
Imponhamos uma dieta às nossas elites que engordam com os dinheiros europeus e nem se dão à decência de pagar impostos. Já chega de festim. Queiramos políticos que não se ajoelhem perante as corporações e os interesses.
Achemos força juntos. Queiramos clareza e carácter nos nossos líderes. Que sejam gente sem medo de perder porque só assim merecem ganhar. E nós com eles.
Digam-nos que os tempos que vêm são difíceis, porque é a verdade. Mas não se esqueçam de nos dizer que temos futuro. Que merecemos esperança. Que temos força.
E se não souberem dizê-lo, ponham, ao menos, a música dos Da Weasel a tocar nos comícios:
Força (Uma Página De História)
(...)
(Respiro fundo)
E lembro-me da força
(Guardo dentro do meu corpo)
Espero que ela ouça
Todo o amor deste mundo
Perdido num segundo
Todo o riso transformado
Num olhar apagado
Toda a fúria de viver
Afastada do meu ser
Até que um dia acordei
E vi que estava a perder
Toda a força que cresceu
Na vida que Deus me deu
A vontade de gritar bem alto:
"O meu amor morreu"
Todo o mundo há-de ouvir
Todo o mundo há-de sentir
Tenho a força de mil homens
Para o que há de vir
Vai haver um outro alguém
Que me ame e trate bem
Vai haver um outro alguém
Que me ouça também
Vai haver um outro alguém
Que faça valer a pena
Vai haver um outro alguém
Que me cante este poema
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