Fura-greves e adesivos *
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente quatro anos, em 20 de Novembro de 2009
1. Há 40 anos, Coimbra fervia de agitação estudantil. A ditadura salazarosa, já muito apodrecida, servia-se da polícia política e da censura para se segurar no poder.
Em 17 de Abril de 1969, o então presidente da república, na altura dizia-se “a veneranda figura do chefe de estado”, foi a Coimbra inaugurar o departamento de Matemática. Alberto Martins, líder dos estudantes, pediu a palavra. Américo Tomás não lha deu e terminou a cerimónia de forma abrupta.
Seguiu-se repressão e prisões. Os estudantes resistiram de todas as maneiras. Fizeram greves maciças às aulas que culminaram numa greve aos exames.
Fazer greve aos exames acarretava um grande custo pessoal: para além do atraso no curso significava também poder ser enviado para as piores frentes da guerra em África.
Não é difícil perceber a angústia interior que aqueles jovens viveram e a pressão familiar a que eles estiveram sujeitos. Mesmo assim, foram poucos os que foram fazer exames. Foram poucos os fura-greves. E os fura-greves ficaram muito mal vistos.
Muitas décadas depois do que aconteceu em Coimbra, em cavaqueira de amigos, mal foi referido o nome de uma determinada personalidade, ouvi logo vernáculo do grosso: “essa besta foi um dos que furou a greve aos exames…”
2. Embora não com o dramatismo dos estudantes de há 40 anos, a avaliação engendrada por Maria de Lurdes Rodrigues colocou os professores também perante dilemas éticos:
“Entrego os objectivos, não entrego os objectivos?”
“Peço aulas assistidas, não peço aulas assistidas?»
Todo o professor que quis aproveitar o campo livre para obter um “excelente” na avaliação não ficou bem no retrato.
Vai-se ouvir muitas vezes no futuro:
“essa besta foi um dos adesivos da marilú…”
1. Há 40 anos, Coimbra fervia de agitação estudantil. A ditadura salazarosa, já muito apodrecida, servia-se da polícia política e da censura para se segurar no poder.
Em 17 de Abril de 1969, o então presidente da república, na altura dizia-se “a veneranda figura do chefe de estado”, foi a Coimbra inaugurar o departamento de Matemática. Alberto Martins, líder dos estudantes, pediu a palavra. Américo Tomás não lha deu e terminou a cerimónia de forma abrupta.
Seguiu-se repressão e prisões. Os estudantes resistiram de todas as maneiras. Fizeram greves maciças às aulas que culminaram numa greve aos exames.
Fazer greve aos exames acarretava um grande custo pessoal: para além do atraso no curso significava também poder ser enviado para as piores frentes da guerra em África.
Não é difícil perceber a angústia interior que aqueles jovens viveram e a pressão familiar a que eles estiveram sujeitos. Mesmo assim, foram poucos os que foram fazer exames. Foram poucos os fura-greves. E os fura-greves ficaram muito mal vistos.
Muitas décadas depois do que aconteceu em Coimbra, em cavaqueira de amigos, mal foi referido o nome de uma determinada personalidade, ouvi logo vernáculo do grosso: “essa besta foi um dos que furou a greve aos exames…”
2. Embora não com o dramatismo dos estudantes de há 40 anos, a avaliação engendrada por Maria de Lurdes Rodrigues colocou os professores também perante dilemas éticos:
“Entrego os objectivos, não entrego os objectivos?”
“Peço aulas assistidas, não peço aulas assistidas?»
Todo o professor que quis aproveitar o campo livre para obter um “excelente” na avaliação não ficou bem no retrato.
Vai-se ouvir muitas vezes no futuro:
“essa besta foi um dos adesivos da marilú…”
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