Tiros no pé *

* Publicado hoje no Jornal do Centro


1. Antes das eleições, o Syriza convenceu-se de que ia causar problemas à "Europa" como em 2010 durante o primeiro resgate grego.

Yanis Varoufakis teorizou a coisa assim: “se isto também significar que, durante essas negociações, os juros da dívida pública de Portugal, Espanha e Itália sobem, tanto melhor.”

Depois, em plena campanha, Alexis Tsipras apocalipsou: “se recusarem as nossas exigências e nos fizerem sair do euro, será equivalente a uma terceira guerra mundial.”


Ora, o facto é que nada aconteceu. Quanto mais as golas de Varoufakis se levantavam nas negociações, mais os bancos gregos secavam, mais a receita fiscal colapsava, mais os juros das dívidas de Portugal, Espanha e Itália desciam.

O sonho húmido de Varoufakis valia menos do que o seu cachecol. Tsipras acabou por ter de lhe tirar o tapete e chegar a acordo, assinar branco onde antes dizia preto. O "real" é terrível e o primeiro-ministro grego, para tentar desamargar um pouco aquela pílula que o seu comité central tinha que engolir, tentou passar as culpas da derrota para Portugal e Espanha.

Em resposta, o ministro das finanças espanhol pôs números onde só se tem ouvido laracha: o terceiro resgate grego vai ser de 50 mil milhões de euros e Espanha vai participar com 7 mil milhões. Os contribuintes portugueses, calculo eu, com um sexto desse valor.

Será um esforço generoso que defendo. Registe-se que o sr. Anacleto Louçã que só se sente representado na "Europa" pelo governo grego vai inchar tanto como qualquer outro contribuinte. O que é pena.

2. António Costa já cometeu dois erros perfeitamente evitáveis. Em vez de fazer corresponder uma página política nova a um país sem troika, pôs Ferro Rodrigues no parlamento a remoer na herança de Sócrates.

Não contente com esse tiro no pé, o líder do PS, apesar da campanha populista e demagógica do Syriza, manifestou-lhe "simpatia". Essa “simpatia”, nas eleições do próximo outono, vai ser tóxica.

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