Promessas prodigiosas e vieses partidários*
* Hoje no Jornal do Centro aqui
1. Ano de autárquicas é ano de tesourinhos à mostra nas praças e nas rotundas. Ano de autárquicas é ano de promessas prodigiosas tanto dos candidatos propriamente ditos, como de ministros que deslargam Lisboa para irem em socorro de autarcas da sua cor em dificuldades.
Em Julho, o presidente da câmara de Viseu foi brindado com dois números desses:
— no dia 15, a ministra do ambiente, Maria da Graça Carvalho, como se constata nas fotografias e no texto do comunicado oficial do governo, enterrou um chapéu de palha até às orelhas, ...
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o ministro das infraestruturas, Miguel Pinto Luz, anunciou “os estudos, os projectos” (sic) para a “ligação ferroviária em velocidade alta entre Aveiro, Viseu e Salamanca” (sic);
como o homem não tinha enterrado um chapéu de palha até às orelhas como a sua congénere do ambiente, acabou por ter de confessar que aquela “velocidade alta” de ligação à Espanha, afinal, não o era;
afinal, a coisa só avança se os chakras se alinharem com os astros, se os ventos soprarem de feição, se a UE não fenecer às mãos de Trump e de Putin;
afinal, esta ligação a Castela e Leão terá de primeiro esperar pela conclusão da ligação à Galiza por Caminha e terá de esperar primeiro pela conclusão da ligação à Extremadura por Elvas;
afinal, com o ritmo com que se faz ferrovia entre nós, comboio em Viseu é coisa para a segunda metade do século XXI;
ora, mesmo assim, apesar daqueles afinais todos, o dr. Ruas ficou rejubiloso, achou aquela encenação ministerial “muito produtiva” (sic) e...
| Fotografia Olho de Gato |
2. Os politólogos Pedro C. Magalhães, Luís de Sousa, Nuno Garoupa e Rui Costa-Lopes acabam de publicar, no site da International Society of Political Psychology, um estudo intitulado “Out-party, out of luck: Partisan biases in public support for due process in corruption investigations / Fora do partido, sem sorte: Vieses partidários no apoio público ao devido processo legal em investigações de corrupção”.
Para este trabalho, elaboraram inquéritos em que se pedia “a uma amostra dos eleitores portugueses” que imaginassem “que um político estava a ser investigado” por ter recebido dinheiro “em troca de favorecimento num concurso público”. “As situações variavam aleatoriamente”, umas vezes estava em causa “o líder do partido preferido dos inquiridos”, noutras “apenas um militante”, noutras pessoas “dos partidos de que menos gostam.”
E, sem surpresa, o estudo demonstra que o preconceito partidário é mais do que muito. Quando o corrupto é do partido, os seus correlegionários agarram-se à presunção de inocência, à maldade da PGR, à teoria da cabala, atiram-se contra os mensageiros que noticiaram a negociata; quando o corrupto é do partido adversário, solta-se o justicialista que há dentro de todo o militante fanático, exige-se rigor, quer-se a aplicação crua da lei.


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