A barbuda*

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 11 de Maio de 2007



1. Na Feira do Livro que o Teatro Viriato organizou, encontrei um pequeno livro,“A Barbuda”, de Manuela Lobo da Costa Simões, editado pela Avis Rara, em 2000.
     
O livro conta a vida de Eugénia Cândida da Fonseca Silva Mendes, Baronesa da Silva, viseense, moradora na Rua da Regueira (actual Rua das Bocas), senhora riquíssima e firme nas suas convicções liberais. Foi perseguida implacavelmente pelos miguelistas.
     
O livro cita o Padre Alvito Buela, no semanário miguelista “Defesa de Portugal”: “Se as mulheres são Malhadas [liberais] é porque perderam a vergonha; é porque não têm virtude; é porque são ímpias.”  
     
Para os absolutistas, o lugar das “ímpias” era no inferno se mortas, e na prisão se vivas. Eugénia Cândida esteve presa no Limoeiro e no Tribunal da Relação do Porto, de 1828 a 1832. Só saiu em liberdade quando as tropas de D. Pedro IV entraram no Porto.

2. A partir do tecto da escadaria principal do edifício da Câmara Municipal de Viseu, olham para nós, magníficos, vinte e quatro viseenses ilustres.
     
Muitas vezes nem reparamos naqueles retratos excelentes, distraídos que andamos com regulamentos e protocolos, taxas e loteamentos, licenças e petições, empreitadas e alvarás,... Era bom pararmos, uma vez por outra, naquela escada, a olhar para aquele tecto. É um dos sítios mais notáveis de Viseu.
     

Entre os vinte e quatro retratados há duas mulheres: a Baronesa da Silva e sua neta, a Viscondessa de S. Caetano.

O retrato da baronesa é a cópia duma tela de Almeida Furtado que, num desusado “hiper-realismo”, pintou em Eugénia Cândida um nada discreto bigode. “Barbuda” chamavam-na os miguelistas, maus como as cobras e com a língua venenosa.
     
Daí o título do livro que se lê com gosto e com proveito.

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