Tempo *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente quatro anos, em 29 de Maio de 2009.



O tempo leva os corpos de novos para velhos. 

O tempo põe musgo nas pedras e depois ele - o tempo - seca o musgo. Pode-se lutar contra o tempo mas ele acaba sempre por ganhar. 

O tempo põe o ontem antes do hoje, e põe o hoje antes do amanhã. Depois de amanhã logo se há-de ver… 

Só a imaginação dos homens consegue fugir a estas implacáveis leis e é capaz de colocar os relógios a andarem para trás. Vê-se isso em dois filmes recentes:

1. A história de “O Estranho Caso de Benjamin Button” é bem conhecida. Benjamin Button nasceu num corpo velho e fez a viagem da vida de trás para a frente. 

Os anos tiraram-lhe a artrite e o reumatismo e deram-lhe vigor. Morreu com corpo de bebé, pequenino, consolado, ao colo do seu amor.

Foi a imaginação de F. Scott Fritzgerald que escreveu o conto “The Curious Case Of Benjamin Button”, nos anos de 1920, agora adaptado ao cinema por David Fincher.

2. Em “Uma Segunda Juventude”, o professor de linguística Dominic Matei, já com mais de 70 anos, sente-se incapaz de terminar a obra da sua vida sobre a origem da linguagem humana. 

No dia em que se ia suicidar, foi atingido por um raio e acordou no hospital 30 anos mais novo e capaz de falar todas as línguas do mundo. Aquela faísca deu a Dominic uma nova vida para poder partilhar com a mulher da sua vida (também “abençoada” por um relâmpago).



Esta história, adaptada ao cinema por Francis Ford Coppola, saiu da imaginação de Mircea Eliade. 

Este filósofo das religiões romeno esteve em Viseu, no Outono de 1941, a estudar os quadros de Grão Vasco. Será que foi ao olhar para aqueles quadros mágicos que Mircea Eliade foi atingido pela faísca da ideia para esta história extraordinária?

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