Uma Europa pós-nacional*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
    
1. O trabalho de Angela Merkel é tratar dos interesses dos alemães respeitando a constituição alemã. Quanto mais o dr. Soares disser mal da “senhora Merkel” (é assim que ele a chama), melhor ela estará a fazer o seu trabalho. A chanceler alemã não tem feito mais do que o seu dever.
     
2. Isolado, nenhum país europeu tem a escala dos Estados Unidos, da China, da Rússia, da Índia, do Brasil, da Indonésia. Em 2025, nem tão pouco a Alemanha terá assento no G8. Já a União Europeia é o maior bloco económico do mundo e tem uma moeda que, apesar de tudo, se mantém forte e confiável nos mercados.
     
3. Os problemas da globalização não podem ser resolvidos à escala nacional. As lavandarias cipriotas põem em risco poupanças inglesas, o ladrilho espanhol abana bancos alemães, um ataque da Al-Qaeda na Argélia torna os nossos banhos mais caros.
    
4. Daniel Cohn-Bendit e Guy Verhofstadt, no seu recente “Manifesto por uma Revolução Pós-Nacional na Europa”, defendem que as eleições para o parlamento europeu de 2014 devem ser constituintes, devem ser fornecedoras de legitimidade para a redacção de uma constituição europeia que rompa com a eurocracia e permita um governo europeu.
     
5. A “Europa” precisa de um governo europeu democrático, eleito directamente pelos europeus, e que responda perante eles como Angela Merkel responde perante os alemães. Se for para isso, valerá a pena eleger deputados europeus em 2014. Se for para dar umas veniagas a “Correias-de-Campos” fora do prazo de validade, não vale a pena.

Comentários

  1. O gato (Alex) encostado aos "vermelhos"? isto está a ficar cada vez mais interessante.
    Vá-se preparando porque o Jornal do Centro terá os dias contados. Depois das eleições?

    JCosta

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    1. Verhofstadt dificilmente pode ser considerado vermelho. E mesmo Cohn-Bendit já não é o Dani Rouge (de) há umas boas décadas.

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    2. Claro, Igor

      Chamar a Vehrofstadt "vermelho" é só revelador de ignorância. O homem até foi alcunhado de "bebé Thatcher" no início da sua carreira política.

      E Daniel-le-rouge largou há muito o espírito "soixante-huitard".

      Este manifesto é pela "Europa" sem visões esquerda-direita paroquiais.

      Cumprimentos

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    3. Enfim, o facto de em Portugal não termos nenhum partido da família destes senhores pode fazer confusão a algumas cabeças. Como por cá só temos socialistas de direita e conservadores de esquerda, é natural que a confusão surja!
      ;-)
      Cumprimentos

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  2. Confesso que não entendo o que "Correias-de Campos" têm a ver com o que acima está escrito! Não tenho procuração para defender políticos mas porque Diabo não paramos de nos insultar?

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    1. Caro António Luís,

      A referência "nominal" significa mais que a pessoa em si (por isso está no plural — “Correias-de-Campos”).

      Significa o típico europarlamentar que, depois de uma carreira política nacional, é premiado pelos aparelhos para uma reforma dourada na "Europa" e que não tem nenhum pensamento europeu (e que discorrem invariavelmente, e só, sobre política interna).

      Aqueles 20 caracteres — “Correias-de-Campos” — não são para "insultar" como diz, são para descrever.

      Estas crónicas têm que ser telegráficas por razões de espaço mas, pelo que me é dado perceber, normalmente este tipo de compactações semânticas são percebidas pelos leitores.

      Cumprimentos

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