O cochicheiro*
* Hoje no Jornal do Centro
Já o referi aqui, mas é bom relembrar de vez em quando: esta coluna segue o método de Norberto Bobbio — escolhe uma parte, analisa os factos e depois exerce o juízo crítico com severidade, especialmente com a parte que escolheu. É por isso que, sendo do PS, desanco também, com brio, nos socialistas quando eles fazem asneira.
Já estive em eventos públicos onde todos os políticos sentados na primeira fila, todos sem excepção, tinham sido alvo do Olho de Gato. Apesar disso, nunca nenhum deles me destratou. Pelo contrário. Devo elogiar a “capacidade de encaixe” dos “atingidos” ao longo destes já quase vinte e quatro anos que levo de “escrítica”.
Uma vez, tive uma troca de palavras bem humoradas com um presidente da câmara. Ele, a rir-se, a propósito de uma matéria da sua câmara que eu tinha tratado, alfinetou-me com um: “quando não souberes, pergunta-me”, a que acrescentou toda a disponibilidade “para prestar esclarecimentos necessários a uma boa análise”.
Ainda mais bem humorado do que ele, retorqui-lhe duas coisas: (i) “só escrevo sobre um assunto depois de o conhecer bem” e (ii) “telefonar-te? nem sonhes! nunca serei o teu ‘Marques Mendes’, nem de ti nem de ninguém!”
E porquê aquela referência ao comentador dos domingos à noite da SIC? É que Luís Marques Mendes, em todos os seus comentários, usava sempre dois únicos ingredientes. Perante todos os assuntos, o homem era um achismo pegado a que, na parte final do programa, para dar algum sabor à conversa, acrescentava uma “notícia em primeira mão” fornecida por fonte amiga.
Foram anos deste “acho, acho, acho” (uma vez, antes de mudar de canal, contei-lhe 26) e deste “desvendamento” de qualquer coisa (no dia seguinte, os media ecoavam até à náusea esse cochicho soprado pelo governo ou um lóbi ao comentador).
A direita quer mesmo levar este lobista “cochicheiro” à segunda volta, no dia 18 de Janeiro de 2026?
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