Micro-Escolas*

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente em dez anos, em 6 de Julho de 2007

1. É muito difícil dar aulas a uma turma de quatro anos de escolaridade. Não é fácil gerir um grupo de alunos, dos cinco aos dez anos, que comem Chocapics logo de manhã e ficam cheios de energia e que, ainda por cima, têm a cabeça cheia de enredos dos “Morangos com Açúcar”. É complicado pôr, ao mesmo tempo e de uma maneira organizada, um grupo a aprender as primeiras letras, outro a estudar os órgãos do sistema digestivo, outro a fazer divisões e ainda outro a calcular perímetros ou a conjugar verbos. 

O resultado é óbvio: nestas turmas os alunos aprendem pouco e os professores saem exaustos e frustrados ao fim de cada dia de aulas.

As micro-escolas deviam ter sido fechadas há 20 anos. Estão a sê-lo agora. Vale mais tarde do que nunca. Não gosto nem um bocadinho do messianismo político da Ministra da Educação, mas devo reconhecer que, neste assunto, ela tem estado bem.

A Assembleia Municipal de Viseu aprovou, há uma semana, uma Moção a exigir pelo menos uma escola do primeiro ciclo em cada freguesia. Esta é uma “regra” incluída na Carta Educativa do concelho e que nenhum partido teve (ou tem) a coragem de contestar. Ninguém quer sarilhos com os Presidentes de Junta.

Resultado desta política timorata: no concelho de Viseu vamos continuar a ter micro-escolas sem massa crítica, nem recursos, nem qualidade pedagógica, nem futuro.

2. Encontrei num blogue estas palavras de Gaston Bachelard:



Banville afirma que quando
a vela de Camões se apagava
o poeta continuava a escrever o poema
à luz dos olhos do seu gato.
Resta-me acabar assim este Olho de Gato, desligar o computador e ir respirar fundo o perfume das tílias…

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