França*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


1. Na primeira volta das presidenciais, houve 18,2 milhões de franceses a votar em candidatos europeístas e 16,4 milhões em candidatos anti-europeus.


Daqui

Logo que foram conhecidos os resultados, quer o gaullista François Fillon quer o socialista Benoît Hamon foram decentes e recomendaram o voto na segunda volta em Emmanuel Macron. Já os candidatos paroquiais derrotados — quer Jean-Luc Mélenchon (por quem torceu o nosso bloco de esquerda), quer Nicolas Dupont-Aignan (que obteve uns surpreendentes 1,7 milhões de votos com o seu "Debout La France") — hesitam no endosso para a segunda volta. Hesitação que enche de júbilo a Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen.


Como se vê, a tradicional linha de fractura que separava a esquerda da direita perdeu capacidade explicativa dos alinhamentos políticos. 

Jean-Luc Mélenchon não tem nada em comum com o pró-europeu Macron mas é farinha do mesmo saco soberanista de Marine Le Pen e esta começou logo, no domingo à noite, a namorar o eleitorado do candidato esquerdista.

2. Nas regionais de 2015, Le Pen teve 32,5% dos votos de casais homossexuais, acima dos 29% de casais heterossexuais. Ainda não achei números desagregados da votação de domingo, mas o voto LBGT na FN deve ter-se solidificado.

Isto só poderá surpreender quem anda distraído. Por um lado, a homofobia do radicalismo islâmico é letal, por outro, a líder da FN tem feito tudo para se distanciar das antigas posições trogloditas de seu pai e tem dado lugares de destaque a activistas homossexuais, a começar pelo seu vice Florian Philippot.

3. O Cine Clube de Viseu exibe a 2 de Maio, na próxima terça-feira, “Esta terra é nossa”, um filme acabado de estrear cuja história pôs Florian Philippot furioso a bradar que era um “filme claramente anti-Frente Nacional”.

Este filme polémico de Lucas Belvaux ...



... pode ajudar-nos a perceber o que vai fazer Marine Le Pen na campanha da segunda volta. As sessões do CCV são abertas a sócios e não sócios.

Comentários

  1. La France, toujours la France!

    Somos (os da minha geração) produto de um liceu marcado pela cultura francesa. Muitos acordámos para a política com a revolta estudantil de 1968; escutámos o Brel, o Ferré, a Françoise….; continuamos a gostar de visitar a França.

    MAS, desde a “Força Tranquila” de Miterrand que a política francesa foi perdendo gás, fulgor, ideias, inovação. Hoje, falar de Macron só me lembra o Macedo da CGD, e o “espírito” de técnico do regime (ler CENTRÃO) - servimos qualquer patrão! Quanto à “delicada” flor de extrema direita (Mariane), embrulhada no seu discurso de bota Doc Martens, é um óbvio perigo para a democracia, que foi fustigada, maltratada e vilipendiadas por socialistas e republicanos. A França da desilusão…

    “Pourquoi ont-ils tué Jaurès?”

    Jacques Brel
    https://youtu.be/Xf0EwOYozJU

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