Fêmeas e machos*

* Publicado hoje no Jornal do Centro

Catarina Gomes e Luísa Pinto
(daqui)

A primeira vez que ouvi o termo microglia foi numa entrevista às investigadoras Catarina Gomes, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, e Luísa Pinto, do Instituto de Ciências da Vida e da Saúde da Universidade do Minho. Com o que ouvi delas e o que li no verbete da Wikipédia tornei-me um “especialista instantâneo” no assunto, pronto a brilhar no Facebook.

Estou a ironizar, como é lógico. Sei muito pouco sobre a microglia, o conjunto de “células especializadas do sistema imunitário” que defende o “normal funcionamento” do nosso cérebro e medula, o conjunto de células guardiãs dos nossos preciosos neurónios.

Quem sabe muito daquelas células são aquelas investigadoras e as suas equipas que acabam de ver um seu trabalho sobre a ansiedade crónica publicado na Molecular Psychiatry, uma publicação de referência mundial.

Elas apuraram, em experiências feitas com animais, que a alteração do sistema imunitário da grávida produzia alterações permanentes na microglia dos filhos, que essa anomalia era diferente no sexo feminino e no sexo masculino, que essa diferença persistia até na idade adulta, e que terapias desenhadas para o combate à ansiedade tinham muito piores resultados nas fêmeas do que nos machos.

Depois deste estudo, estas cientistas ficaram com uma certeza — para tratar a ansiedade crónica, um dos principais gatilhos da depressão e outras doenças psiquiátricas, são necessários “fármacos que tenham por alvo outras células que não os neurónios” e esses fármacos têm que ser “diferenciados para homens e mulheres.”

Para chatear a CIG (a comissão para a igualdade de género) e o ministro Eduardo Cabrita que, em Agosto, meteram a pata na poça no caso dos livrinhos para meninas e meninos, sintetizo assim as conclusões desta investigação: para um tratamento eficaz da ansiedade crónica, a indústria farmacêutica vai ter que arranjar pílulas cor-de-rosa e pílulas azuis.

Comentários

  1. Li com interesse. Aprendi.
    No fim, pensei “Hoy disolví un amor” e fiquei com vontade de ouvir música dançante. Gosto mesmo da “igualde de género”!

    Viciante:
    Washed Out – “Hard To Say Goodbye”
    https://youtu.be/7pLw0BDobFM

    PS: dedicado a “brilhante” Regulador Cabrita do Pensamento!

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