Céu azul*

* Publicado hoje no Jornal do Centro

Fotografia de JB

1. Há muitos muitos anos, num concurso do Cine Clube de Viseu, apareceu uma fotografia com um camponês inclinado, de aguilhada na mão, a guiar uma junta de vacas que, em esforço, puxava um pesado carro. Por cima, um céu de nuvens dramáticas acentuava a necessidade daquela carga chegar lesta a um abrigo.

Com um céu limpo, a fotografia seria mediana, com aquelas nuvens e a luz que, através delas, se intersticiava por toda a paisagem, a fotografia era sublime. Não me lembro se o júri a premiou. Por mim, ela teria levado o primeiro prémio.

Indo ao ponto: para efeitos fotográficos e não só, paisagem com céu azul é chateza, paisagem com nuvens é o contrário disso.

2. A Cloud Appreciation Society foi fundada em 2004. Esta agremiação mundial de apreciadores/amadores/observadores das nuvens tem um site onde pode ser achado um enérgico manifesto que proclama: "comprometemo-nos a dar combate, sem tréguas, à 'ditadura do céu azul', onde quer que a encontremos, porque a vida tornar-se-ia um tédio sem tamanho se fôssemos condenados à monotonia de um plácido céu sem nuvens." Socorri-me da tradução deste manifesto que o grande José Tolentino Mendonça incluiu num seu texto intitulado, muito a propósito, "Cabeça no ar".

Usando a escala classificativa das Standard & Poor's deste mundo, o céu azul costuma ser cotado com triplo A, enquanto as nuvens lutam para não serem carimbadas como lixo. Só que, como se sabe, as agências de notação não são grande coisa quando postas a dar um retrato do mundo.

3. À excepção de um ou outro risco low cost desenhado no ar pelos aviões, o céu continua azul. Tem estado sempre assim, este aborrecimento azul, ao longo deste ano trágico.

Venham nuvens, muitas nuvens, pedem os megapixéis das nossas máquinas fotografantes. Venham nuvens, muitas nuvens carregadas de água, imploram as nossas exauridas barragens.
Barragem de Fagilde, Outubro de 2017
Fotografia Olho de Gato

Comentários

  1. Já não sei fazer as pazes...

    HOJE:
    O Governo pretende eliminar nove anos de serviço dos professores no descongelamento das carreiras. Nem considera uma recuperação faseada. Excluiu-os. E porquê apenas os professores? Por uma questão técnica, diz o Governo.
    Nas outras carreiras as pessoas obtêm um ponto por ano até ao número necessário à mudança de categoria e nos professores, diz o Governo, é por menção qualitativa.

    A partir do momento em que Maria de Má Memória Lurdes Rodrigues entrou para o Ministério da Educação, deixou de haver democracia nas escolas e o descontentamento dos professores passou a ser uma constante. E tudo com um objectivo: levar os professores à exaustão.

    HOJE:
    A vacuidade do ministro da Educação é deprimente.
    Os Nogueiras e Cª, que andaram a fazer fazer manifs de apoio ao Tiaguinho, deviam ter vergonha da sua actuação sindical, dos últimos anos. Apenas e só negociar lugares de destacamentos nos sindicatos e “amansar” os professores.

    Este Governo devia “arrepiar” caminho e não imitar os anteriores. Mas, tudo é negócio, até a municipalização da educação que interessa a todas as câmaras e a todos os presidentes (assunto para outro dia…).

    “Já não sei fazer as pazes
    Vão Pó [Trabalho] !”

    https://youtu.be/D0HPZdpoo3U
    Camané e Dead Combo – “Inquietação”

    A contas com o bem que tu me fazes
    A contas com o mal por que passei
    Com tantas guerras que travei
    Já não sei fazer as pazes




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