Nascidos no século XXI*

* Hoje no Jornal do Centro


1. Como diria La Palice, quanto mais tarde se nasce, mais novo se é. E, como é melhor ser novo do que ser velho, a “graça do nascimento tardio” é sempre boa, embora o implacável tempo nunca pare. Já não falta muito para os primeiros bebés do século XXI chegarem à maioridade e começarem a guiar nas rotundas e a votar.

Eles sabem pouco da história do século XX, não imaginam sequer como era o horror do fascismo e do comunismo. Os bebés do século XXI nascidos na Europa tiveram a “graça do nascimento tardio” de que falou Helmut Kohl, recentemente falecido. O arquitecto da reunificação alemã referia-se aos alemães nascidos depois da morte de Hitler que já não tinham nada a ver com os crimes nazis. Helmut Kohl quis sempre “uma Alemanha europeia e não uma Europa alemã”, porque sofreu na pele a maldade dos nacionalismos beligerantes.

O veneno do populismo nacionalista, que quer outra vez levantar a grimpa à esquerda e à direita, tem que ser derrotado. Para isso, é preciso passar a memória destes pesadelos aos nascidos no século XXI.

Ana Catarina Mendes e Ângelo Moura
Fotografia do FB do candidato socialista à câmara de Lamego
(editada) 
2. Por volta de 1917, mais ano menos ano, uma comissão de melhoramentos para a Messejana chegou-se junto de Brito Camacho, um influente político da primeira república, com uma lista de reivindicações para aquela simpática terra do interior alentejano. Brito Camacho perguntou-lhes, impassível, se eles não queriam também uma praia, ao que os alentejanos responderam: «arranje o sr. doutor a água, que a areia arranjamos nós.»

Um século depois, uma comissão de melhoramentos para Lamego acaba de chegar junto de Ana Catarina Mendes, uma influente política da terceira república, com uma lista de reivindicações para aquela simpática cidade do interior duriense. Ana Catarina Mendes perguntou-lhes, impassível, se eles não queriam também uma maternidade, ao que os lamecenses responderam: «arranje a sra. doutora a sala de partos, que os bebés arranjamos nós.»

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