Pata de galinha*

* Hoje no Jornal do Centro

1. O referendo do brexit foi há exactamente um ano, em 23 de Junho.

Dois dias depois, o congresso do bloco de esquerda quis aproveitar a maré e debateu a hipótese de um referendo similar cá. Pela primeira vez, um partido com representação parlamentar punha em cima da mesa o “sim ou não” à UE. Catarina Martins não percebeu a natureza do voto brexit, um voto nacionalista e anti-imigração, um voto do passado contra o futuro — 64% dos eleitores britânicos com menos de 25 anos votaram para ficar na “Europa”.

O bloco não o percebeu mas o eleitorado espanhol percebeu-o muito bem, e, três dias depois do brexit, retirou um milhão de votos a Pablo Iglesias. Todas as eleições seguintes na UE puseram no poder partidos europeístas e foram tirando fôlego aos populistas. Em França, os populistas de esquerda e de direita acabam de ser reduzidos à insignificância no parlamento. Em Setembro, Angela Merkel vai ser reeleita pelos alemães para um quarto mandato.

Passou um ano, o panorama mudou: o eixo franco-alemão está forte outra vez, a “Europa”, viva e a crescer. Por sua vez, o Reino Unido e os EUA estão nas mãos de dois aprendizes de feiticeiro: Theresa May e Donald Trump.

Passou um ano, o “brexit-means-brexit” de May não sai do sítio. Tanto Londres, a poderosa “cidade-estado” sede da City, como o eleitorado cosmopolita e jovem tudo farão para que ele fique mesmo assim. Parado e quedo.



2. O Jornal do Centro fez uma infografia sobre a auto-estrada Viseu-Coimbra que parecia a pata de uma galinha. A sul de Santa Comba Dão, um dos três “dedos” da pata do bicho apontava para a A1 em Trouxemil, o “dedo” meeiro apontava para Coimbra e o outro para a A13.

Confesso que antes da pata de galinha vi naquele desenho o símbolo da paz. A paz com que Sócrates lançou a obra em cerimónia luzidia em 2008, a paz com que Passos fez o mesmo em 2015, a paz com que, neste ano de autárquicas, a geringonça se embrulha em estudos empaliantes.

Comentários

  1. Este é um assunto da categoria: Malapata para Viseu.
    Enquanto “a geringonça se embrulha em estudos empaliantes” e os doutorites/enginheiros (de Coimbra) continuam os habituais empatas…

    Estamos destinados a viajar eternamente num caminho de cabras?
    Raios e Coriscos!

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