Já visto*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


1. Este texto trata do “já visto”, do que está sempre a acontecer.

Os políticos romenos são muito criativos a libertar presos de colarinho branco. Há uns anos arranjaram uma lei que tirava trinta dias de pena por cada livro publicado. Foi um festim: por exemplo, um ex-dono do Rapid de Bucareste escreveu logo cinco livros num fósforo.

Agora, o governo romeno tentou fazer passar uma lei que libertava corruptos, desde que só tivessem ido ao pote até 24 mil euros. A coisa deu tal escândalo, os romenos vieram para a rua tão furiosos, que o governo teve que recuar.

É melhor não nos rirmos muito: é que na Roménia há políticos corruptos presos, cá não; lá há políticos dentro por duas dezenas de milhares de euros; cá nem por milhões. (Devo confessar que este parágrafo é um “já visto” para os meus amigos do Facebook.)

2. Outro “já visto” é termos alunos de mantas nas aulas por causa do frio. Desta vez, é na secundária Emídio Navarro de Viseu e na secundária de Oliveira de Frades, duas obras da Parque Escolar.

É bom que se saiba que esta empresa pública usou, em matéria de climatização e renovação de ar, “conceitos que eram típicos dos EUA nos anos 60”, uns sorvedouros de energia anacrónicos e incomportáveis para as escolas. Como explicou o Professor Oliveira Fernandes, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, foi um caso “de saloiismo, de parolismo, de incompetência e de irresponsabilidade pública que não tem classificação."

3. O Museu Grão Vasco está, mais uma vez, sem director efectivo.

Fotografia Olho de Gato
É outro “já visto”: quem não se lembra do peculiar caso da ministra Gabriela Canavilhas que, em 2010, veio cá buscar o promissor António Filipe Pimentel, quatro meses depois de o homem ter tomado posse?

4. Mais uma vez, os Jardins Efémeros, um evento borliante financiado pela câmara de Viseu, foi calendarizado para cima do Tom de Festa que precisa de bilheteira.

Este “já visto” é inexplicável. E imperdoável.

Comentários

  1. Assim a frio, à entrada do fim-de-semana e no meio de um temporal, não se faz a ninguém esta maldade de “mais uma vez, os Jardins Efémeros, um evento borliante financiado pela câmara de Viseu, foi calendarizado para cima do Tom de Festa que precisa de bilheteira.”

    Fez bem o Sr Gato em retomar este assunto. Comungo deste pensamento tal como o referi, em 2 de fevereiro, no post “Nos dias quotidianos”.

    Neste país, alguém pensou que cultura é vocacionada para as classes “cultas”, e é a partir daí que se fazem, não as políticas culturais mas a programação cultural. Ignoramos os motivos desta falta de diálogo (óbvia), que revela (mais uma vez) não o princípio de uma bela amizade mas a evidência (trágica) de como dançar sem par.

    O meu optimismo natural sobre “a bondade dos homens” está a ir por água abaixo.
    Politica? Ideologia? Tretas…

    BAN – “Irreal Social”
    https://youtu.be/rCZgZo92-M0

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares