Atiçador*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 5 de Janeiro de 2007

1. Lê-se em “O Atiçador de Wittgenstein”, de David Edmonds e John Eidinow, editado pela Temas e Debates, que, no dia 25 de Outubro de 1946, pelas 20H30, se reuniu o Clube de Ciência Moral de Cambridge. Orador convidado: Karl Popper.

Na assistência (que não deveria exceder as 30 pessoas) estavam Ludwig Wittgenstein e Bertrand Russell. Numa sala aquecida com uma lareira de carvão, naquela noite fria, encontraram-se três dos pensadores que mais influenciaram o século XX. Foi a única vez que Wittgenstein e Popper se encontraram, apesar de ambos serem originários de Viena de Áustria.

Todas as testemunhas concordam numa coisa: o debate entre Wittgenstein e Popper foi violentíssimo. Embora exista alguma controvérsia acerca da amplitude dos movimentos do atiçador, parece que, como conta Popper em Unended Quest (1974), Wittgenstein estava a usar o atiçador da lareira ”como se fosse a batuta de uma maestro para enfatizar as suas asserções”. Wittgenstein desafiou Popper a dar exemplo duma regra moral, ao que este respondeu: “Não ameaçar os oradores convidados com atiçadores.” Wittgenstein, furioso com a resposta, atirou o atiçador ao chão e saiu, batendo com a porta.

Terá acontecido mesmo assim como contou Popper? O livro é feito a partir desta pergunta e lê-se com proveito e prazer.

2. Há já uns bons anos, estive na apresentação do Polis de Viseu. “Sem politiquices, Viseu tem um bom projecto” – reconheceu, na altura, José Sócrates. Na cerimónia, em frente ao relógio do Polis, o PSD de Viseu pôs um cartaz a pedir a Guterres e a Sócrates um Estádio do Euro.

Passou o tempo. Estádio, felizmente, não há. Relógio, ao que parece, vai deixar de haver. As obras vão continuar. Com quatro anos de atraso.

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