A noite deixou-me outra vez transtornada

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A noite deixou-me outra vez transtornada
lentamente a manhã se enche
de palavras que eu sei de certeza que significavam alguma coisa, mas o quê?
que ontem significavam alguma coisa.

Andar é balançar sobre os pés,
vejo na rua os seres de sangue quente
que tiveram também a inexplicável coragem
de se levantarem
em vez de ficarem deitados.

Nunca ninguém tem a certeza de nada,
de ser amado, de ser abandonado
tudo é possível e tudo é permitido
tudo sucede em alternância.

Agora me lembro o que queria dizer:
enquanto isso não trouxer infelicidade
é uma sensação agradável. Mas no fundo
somos doces como Turkish Delight
numa lata cheia de pregos.
Judith Herzberg
Trad.: Ana Maria Carvalho Lemmens


Comentários

  1. "Nunca ninguém tem a certeza de nada" - Judith Herzberg

    "Cristo morreu, Marx também..."
    Somos um emaranhado de paradoxos, uma espécie que traz em si Deus e o diabo.
    16 de Janeiro de 2017 - CASTRO GUEDES , Público on line

    https://www.publico.pt/2017/01/16/politica/noticia/cristo-morreu-marx-tambem-1758436

    Mais um excelente artigo de Castro Guedes de consciência crítica, acuidade e rigor intelectual.
    O seu combate contra o inconformismo, o seu empenho intransigente em valorizar e enriquecer as lutas da lucidez, reforçam a ideia de que só há dois métodos para o pensamento: o de La Palisse e o de Don Quixote. É o equilíbrio da evidência e do lirismo será o (único? o verdadeiro?) que pode nos permitir aquiescer ao mesmo tempo à emoção e à clareza.
    “Quis dizer a verdade sem deixar de ser generoso”, escreveu Camus ao que eu acrescentaria que tem que continuar a haver protesto e esperança no futuro.

    PS: Paradoxo da Tangência é questionar como o actual director do Público (sr Diniz) ainda permite que Castro Guedes, São José Almeida ou Pacheco Pereira continuem a escrever? O Vitor Malheiros “já foi de vela”. A limpeza vai continuar? “Publico” já foi um jornal de referência. Paradoxos…!

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