Consumos*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 12 de Maio de 2006


1. Numa cadência anual, tenho recebido várias cartas de Maria Ramos, directora dum auto-designado “Inquérito Nacional de Consumo”. A deste ano já chegou.

Logo na primeira página, fiel ao princípio de que uma imagem vale mais que mil palavras, Maria Ramos apresenta-se numa agradável fotografia a preto e branco, tipo passe, e informa-me que, se responder a este inquérito, fico habilitado num concurso. São 10.000 euros o primeiro prémio deste concurso devidamente autorizado pelo Governo Civil de Lisboa.

2. Não resisto a fazer um parêntesis: autorizar concursos é um acto burocrático nada simplex e que, só por si, dá sentido à existência de quem o tramita. São mal intencionadas as vozes que querem acabar com os Governos Civis.


Daqui
3. Regresso a Maria Ramos. Neste Inquérito ela faz-me 139 perguntas sobre mim e os meus. Se gosto mais do Continente ou do Lidl. Se visto Gant se Massimo Dutti. Se faço compras pela Internet ou por catálogo; se faço jogging ou me fico pelo golf. Maria Ramos quer saber qual é o meu champô; que comida dou ao meu gato; que região demarco para o vinho que bebo; que carro guio e de que ano é; qual é a marca do meu telemóvel; se a minha ligação à Internet é de banda larga ou afunilada. Ela quer saber quando termina a minha hipoteca; qual é a cor dos meus cartões de crédito; se tenho ar-condicionado e home-cinema; consegue ainda perguntar-me se tenho piscina e horta.

Ela quer saber tudo: nome completo, morada e a data do meu aniversário e dos meus familiares. Ainda por cima, enquanto o Ministro das Finanças se fica pelo meu rendimento bruto anual, ela vai mais ao pormenor, e quer saber qual é o rendimento líquido mensal da minha família.

Maria Ramos é curiosa. Muito. Espero com impaciência a cartinha do próximo ano.

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