Merkel e Draghi*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro



Depois do estoiro do Lehman Brothers, em 2008, os estilhaços da crise sistémica global atingiram todo o mundo, o ocidente perdeu peso e o planeta ficou mais “asiático”.

Os Estados Unidos evitaram uma catástrofe económica fazendo injecções maciças de liquidez. A Reserva Federal chamou-lhe “facilitação quantitativa” (os banqueiros são mestres do eufemismo). O facto é que, ao contrário do que ensinava a doutrina económica, aquele fabrico de dinheiro não originou inflação. À frente do banco central americano estava Ben Bernanke, conhecedor profundo da Grande Depressão de 1929. O homem certo, no lugar certo, no momento certo.

Por sua vez, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), nos anos a seguir a 2008, tiveram crescimentos notáveis. Estão agora a fazer aterragens bruscas (os dois primeiros) e mais suaves (os outros).

O colapso de 2008 apanhou a “Europa” ainda a sofrer o impacto da entrada de dez países do leste em 2004, a que se somaram ainda mais dois em 2007. Para além da imprudência destes mega-alargamentos, os traumas históricos do “motor” europeu, a Alemanha, fazem desta um “líder recalcitrante”, que nunca age, só reage.

É por isso que a “Europa” está sempre a correr atrás do prejuízo. Têm-lhe valido duas figuras fortes: 
Angela Merkel, que lhe tem dado força ética perante a crise dos refugiados, e Mario Draghi, que lhe tem dado cimento financeiro.

[Fotomontagem daqui]

Só agora é que Draghi está a fazer a “facilitação quantitativa” que Bernanke fez logo em 2008. Isso implica uma política de factos consumados que está a aguentar o euro mas é difícil de digerir pelos eleitorados.

Os soberanismos populistas de extrema-esquerda e de extrema-direita estão a crescer (na Grécia governam coligados e em Portugal apoiam, pelo menos para já, o governo).

Apesar de tudo, o estado social europeu — obra dos partidos democratas-cristãos e sociais-democratas —, que tem abanado, mantém-se em pé e pede meças a qualquer outro do mundo.

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